Depois de quase três décadas trabalhando como “artista” em circos, a elefanta asiática Ramba, de ao menos 53 anos, chegou ao Brasil, nesta quarta-feira, 16 de outubro, para uma merecida aposentadoria. A passageira ilustre, com seus 3,6 mil quilos, desembarcou às seis horas da manhã no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, três horas depois de partir do aeroporto de Santiago, no Chile, a bordo de um Boeing 747-400.
Ramba foi trazida no interior de uma caixa de quase seis toneladas, com água, alimentação, temperatura controlada e câmeras internas de monitoramento. A elefanta passou pelos trâmites da Receita Federal, foi inspecionada por técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e recebeu uma guia de transporte expedida por funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Às nove horas da manhã, Ramba seguiu em comboio rodoviário para o Santuário de Elefantes do Brasil, uma reserva de 1,1 mil hectares, em Chapada dos Guimarães (MT). A viagem internacional marca um novo capítulo na história da elefanta que nasceu selvagem e foi domesticada para ser atração circense. A maratona, iniciada em Rancágua, a 90 quilômetros de Santiago, deve terminar somente na noite desta quinta-feira (17), ou na manhã de sexta-feira (18) com a chegada ao destino.
No percurso de 1.500 quilômetros, Ramba vai ter água à vontade e será alimentada com feno, frutas e legumes, além de suplementos. Se quiser, terá direito a caminhadas em fazendas ao longo do trajeto, que já estão de preparadas para essa eventualidade. Além do caminhão-guincho da empresa Porto Seguro, que cedeu o transporte, uma equipe de apoio incluindo uma veterinária e o presidente do santuário, Scott Blais, seguem com o comboio, escoltado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Aparato
A chegada de Ramba movimentou os bastidores do aeroporto de Viracopos, que em 59 anos de história, já recebeu baleia, onça, canguru, avestruzes, boiadas inteiras, mas nunca tinha recebido um elefante. A operação de desembarque mobilizou cerca de 30 pessoas. Após um voo de três horas, Ramba chegou um pouco agitada, segundo o presidente do santuário, Scott Blais, que estava com ela no avião. “Ela sente que não está com os pés em terra firme e fica um pouco nervosa, mas logo se acalma”, disse.
Funcionários da concessionária do aeroporto abriram uma faixa com os dizeres: “Ramba, seja bem-vinda ao Brasil. Viracopos te recebe de braços abertos”. O contêiner foi aberto para higienização, mas a elefanta permaneceu no interior. No santuário, a elefanta será recebida pelas novas companheiras Maia e Rana, que já vivem ali. A caixa será aberta em uma baia forrada com areia para que ela possa ter contato com o chão.
Maus-tratos
A idade de Ramba é incerta, calculando-se que tenha entre 53 e 60 anos. Em liberdade, um elefante vive até 80 anos, mas o cativeiro pode reduzir essa previsão. Conhecida como a última elefanta de circo do Chile, Ramba foi comprada na Ásia e levada para a Argentina na década de 1980. Durante três décadas, ela viajou de caminhão, presa a correntes, para ser vista pelas plateias.
Em 1997, o animal foi confiscado do circo “Los Tachuelas” pelo Serviço Agrícola e Pecuário do Chile, devido às denúncias de negligência e maus tratos. Embora proibido de usá-la em apresentações, o circo continuou como depositário até a elefanta ser resgatada, em 2011, pela ONG Ecópolis de proteção aos animais, e levada para Rancágua. A entidade, que atua com outros animais silvestres e tem pouca experiência com elefantes, acabou entrando em contato com o santuário brasileiro.
De acordo com a voluntária Valéria Mindel, a elefanta continuava sofrendo com o rigor do inverno chileno e com a solidão. O santuário abriu um financiamento coletivo no Brasil e nos Estados Unidos para custear a transferência e contou com apoio de empresas para o transporte de Ramba. A entrada da elefanta no País foi autorizada pelo Ibama. O aeroporto de Viracopos não cobrou taxas alfandegárias. Aos 46 anos, Scott Blair dedica sua vida a esses animais. Ramba é o 36º elefante resgatado por Blair e sua mulher, Katherine, e transferido para os santuários espalhados pelo mundo.