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Racismo Virtual e Beleza: Reação ao Título de Miss São Paulo 2024 

André Luiz da Silva * 
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Ao me preparar para o artigo desta semana no querido Jornal Tribuna Ribeirão, eu estava entre abordar a grandiosa celebração dos Jogos Olímpicos de Paris ou a 23ª Feira Internacional do Livro – FIL de Ribeirão Preto, um dos maiores eventos literários do país. Contudo, um novo e alarmante caso de racismo surgiu, exigindo nossa atenção e reflexão. 
 
No dia 25 de julho, Milla Vieira, uma modelo de 33 anos, foi coroada Miss São Paulo 2024. Desde então, ela tem enfrentado ataques nas redes sociais, direcionados por pessoas que discordam do resultado. Infelizmente, esses ataques carregam um tom racista, o que torna a situação ainda mais grave e preocupante. 
 
Desde a infância, acompanho concursos de beleza e já tive o privilégio de atuar como jurado. Sempre questionei os critérios usados para determinar as vencedoras, reconhecendo que esses eventos frequentemente geram controvérsia.  
 
A vitória de Milla Vieira, uma mulher negra, pode causar estranheza em uma sociedade ainda marcada por padrões de beleza eurocêntricos e racistas. No Miss Universo, que é o concurso de beleza mais famoso do mundo, as vencedoras negras foram poucas. Ao que me recordo: JanelleCommissiong (1977), Wendy Fitzwilliam (1998), MpuleKwelagobe (1999), Leila Lopes (2011) e ZozibiniTunzi (2019). No Brasil, Milla Vieira é a quinta mulher negra a ser Miss São Paulo (Universo), sucedendo Karen Porfírio (2017), Sabrina Paiva (2016), Sílvia Novais (2009) e Joyce Aguiar (2001). No Concurso Miss Brasil, que existe desde 1954, as vencedoras negras foram Deise Nunes (1986), Raissa Oliveira Santana (2016) e Monalysa Alcântara (2017). 
 
Milla Vieira trabalha desde os 11 anos de idade. Em 2014, representou o Brasil no Miss Supranational na Polônia e, desde então, ganhou destaque internacional como modelo, vivendo em vários países, incluindo Itália, África do Sul, Espanha, México, Uruguai e Estados Unidos. Fluente em inglês e espanhol é uma mulher determinada e multifacetada que apesar de vivenciar outras experiências de racismo e preconceito, talvez não tivesse noção de como o ato de coroar uma mulher negra como a mais bela cause tanto alvoroço e polêmica. 
 
Espera-se que essa violência propagada nas redes sociais não fique impune já que a polícia paulista dispõe da Delegacia de Crimes de Raça e Intolerância Religiosa (DECADRI) e da Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER) que possuem estruturas e tecnologia para rastrear e identificar os covardes agressores que, muitas vezes, se escondem por traz de nomes e perfis falsos. 
 
Os concursos de beleza têm evoluído para aceitar mulheres trans, casadas, divorciadas, grávidas e com filhos, além de ampliar o limite de idade. Embora também exijam conhecimentos gerais e engajamento em causas sociais, a adequação desses concursos e a perpetuação de padrões estéticos, sexistas e machistas ainda são questionáveis. A desconstrução dos padrões de beleza que marginalizam determinados grupos de mulheres, especialmente as negras, é uma tarefa contínua e necessária. 
 
Concluindo, é fundamental que todos nós intensifiquemos a luta contra o racismo em todas as suas formas. A reflexão sobre eventos como o caso de Milla Vieira deve nos inspirar a agir com determinação e solidariedade, promovendo uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.  
 
A leitura de obras como “História Social da Beleza Negra” e a participação na  23ª FIL  cuja temática é “Cotidianos Poéticos – Do épico de Camões às Batalhas de Rua” proporcionam exercitar a diversidade cultural com encontros, trocas de experiências e saberes com escritores, jornalistas, músicos  e artistas como:  Sueli Carneiro, Carlos de Assumpção, Jéferson Tenório, Julio Emílio Braz, Márcia Kambeba, Renato Nogueira, Roberta Estrela D’Alva, Ailton Krenak, Geni Núñez, Rachel Gouveia, Vinicius Preto, Elizandra Souza e Genival Oliveira Gonçalves entre outros. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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