Os jornais têm noticiado diariamente a grave crise hídrica que assola o país, os reservatórios das usinas com pouca água. Como a maior parte da eletricidade que usamos vêm das hidrelétricas, há nos rondando o perigo dos blackouts eventuais e até mesmo de racionamento, como o que já ocorreu em 2001. É bem verdade que a situação hoje é melhor, em função dos investimentos em gerações eólica, solar, termoelétrica, nuclear o outras, o que ameniza o problema. A retração econômica provocada pela pandemia arrefeceu a demanda e podemos olhar o futuro imediato com alguma esperança de que não nos faltará eletricidade. Mas, o racionamento é uma possibilidade a ser considerada.
Esta dúvida energética chama-nos a atenção para o carro elétrico. Desenvolvido pelas montadoras depois de pressão das sociedades europeia e asiática, que exigem continuamente dos seus governos limitar a fabricação de motores movidos a combustível fóssil, o carro elétrico trás consigo uma contradição pouco explorada: se, de um lado, soluciona a médio prazo o problema da emissão enorme de gás carbônico que a frota mundial de 4,5 bilhões de automóveis produz, por outro lado não resolve o problema da geração da eletricidade, neles a ser utilizada.
Hoje, no mundo, em números redondos, 40% da eletricidade consumida é produzida com a queima do carvão, fóssil altamente poluidor, 7 % vêm da queima do petróleo, ou seja, quase a metade da energia que consumimos vêm de fontes poluidoras. Mesmo eliminando o gás carbônico dos carros, manteremos a poluição fóssil da produção de eletricidade.
No Brasil, 60% da eletricidade produzida vem das hidrelétricas, 9% do vento, 9% da biomassa e 8% do gás natural. A queima do carvão e do óleo diesel representa menos de 5%, enquanto a energia solar responde por cerca de 2%. Temos assim, uma matriz energética mais limpa, embora dependente de fatores climáticos.
Os automóveis brasileiros usam uma tecnologia original, infelizmente encontrada somente em nosso país, os motores flex, que funcionam com etanol ou gasolina, ou ambos, em proporções determinadas pelos usuários. Quando usam o álcool, poluem 10% do que fazem os movidos a gasolina, sendo que estes 10% são facilmente zerados pela absorção feita pelos próprios canaviais. Infelizmente, o Brasil representa menos de 3% da comercialização mundial dos veículos, as novas tecnologias são desenvolvidas nos países centrais, que não têm interesse em adotarem motores movidos a álcool por não produzirem etanol em quantidade suficiente e dependerem de fontes externas.
Uma solução provisória, que atende também a falta de estações de carregamento elétrico, é a adoção do carro híbrido, que gera sua própria eletricidade, mas que ainda depende de um motor a combustão. A Toyota, mais uma vez mostrando seu pioneirismo, introduziu no mercado brasileiro, um híbrido com motor movido a etanol, com redução enorme da poluição.
Mas, o carro elétrico veio para ficar, como demonstram todas as previsões das montadoras. Resta ao mundo mudar sua matriz energética, libertando-se do carvão e investindo em energias mais limpas. E ao Brasil, ampliar seus investimentos na geração de energia não poluente. Se não, o carro elétrico desvestirá um santo para vestir outro…