Quando um usuário do transporte coletivo urbano de Ribeirão Preto adiciona créditos em um cartão para pagar as suas viagens e não utiliza a totalidade desses créditos, os valores dessa sobra não são reembolsados, não podem ser utilizados por outros passageiros e nem doados. Um estudo realizado em um curso de pós-graduação em Gestão Financeira e Controladoria aponta que esses valores eram, no início do atual governo, em 2018, de aproximadamente R$ 21 milhões, desde a implantação do atual sistema em 2012.
O levantamento faz parte de um trabalho de conclusão denominado ‘Controle e Gestão de Arrecadação do Transporte Urbano de Ribeirão Preto’ e foi feito pelo acadêmico Marcos Augusto Mariotti, do Centro Universitário Estácio de Sá, com orientação da professora Sarah de Oliveira Silva dos Santos (FEARP/USP).
Mariotti diz que os dados foram confirmados pela Transerp, responsável pelo gerenciamento do trânsito na cidade, por meio de questionamentos e do portal de transparência da empresa. “A emissão de créditos dos bilhetes, seus registros, controle e aplicação do fundo de sobra mensal dos usuários, que segundo direção da TRANSERP, através do e-SIC 738 e 09/10/2017, acumulavam em 30 de janeiro de 2017, o valor de R$ 20.858.668,91”, aponta o trabalho.
“Acredito que são pessoas que deixam de utilizar os créditos porque adquirem um veículo, por exemplo”, comenta o acadêmico. “O que considero pior é que os valores dos créditos não equivalem às passagens, ou seja, imagina se a pessoa tem em crédito o equivalente a dez passagens. Aí ela deixa de usar. Mas se resolver usar depois e houve reajuste na tarifa, ela não terá as mesmas dez passagens, mesmo tendo pago antecipadamente. As empresas utilizam esses valores à vista. É leonino”, aponta.
Mariotti diz ser preciso a revisão na atual legislação. “É necessário aprovação de um projeto para implantação do sistema de controladoria municipal para ter informações mais apuradas e atualizadas, criando elementos para revisar a Lei 319/12 de forma ser possível avaliar e quebrar a qualidade nominal praticada pelo nosso cartão e voltar conforme foi no início onde as fichas não tinha nominalidade e permitiam transações entre os usuários, inferindo assim um processo ativo, controle integral de toda estrutura administrativo operacional com equilibro”. Outra sugestão do acadêmico é que os R$ 21 milhões sejam destinados a entidades carentes, uma vez que não foram utilizados.
O transporte coletivo urbano em Ribeirão Preto é feito pelo consórcio PróUrbano – formado pelas empresas Rápido D`Oeste (40%), Transcorp (30%) e Turb (30%) – e tem uma frota de 356 ônibus que operam 119 linhas.
Um levantamento recente mostrou que 150 mil passageiros utilizam os ônibus todos os dias. O número, geralmente divulgado como a quantidade de passageiros, significa, na verdade, o total de passagens contabilizadas já que um único usuário, por exemplo, utiliza o serviço diariamente para ir trabalhar em diversas oportunidades, durante todo o mês.
Um estudo feito por especialistas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a pedido do Consórcio PróUrbano, na ocasião da discussão do reajuste das tarifas, indica que, a cada cinco passageiros transportados, apenas um paga o valor integral da tarifa, dois pagam metade e dois têm a gratuidade. Ou seja, 20% dos usuários do serviço pagam o valor integral da passagem, que neste ano subiu 6,33%, de R$ 3,95 para R$ 4,20, acréscimo de R$ 0,25.