Tribuna Ribeirão
Artigos

Quimeras 

Edwaldo Arantes * 
[email protected] 
 
Nós que humildemente tentamos fazer da palavra a imaginação o devaneio e o sonho, optamos algumas vezes pela ficção, neste árduo ofício em organizar palavras, buscar a verdade, mas também, mentiras inocentes e, oportunas, que somente existem na nossa solidão, como procuro relatar abaixo. 
 
Os seios como as serras que parecem deitadas de bruços na imensidão das Gerais, em seus contornos e configurações. 
 
Pernas torneadas e fortes, feito troncos de Buritis, tão cantados por João Guimarães Rosa, plantados sob o solo rude e o Sol do sertão mineiro. 
 
Quase flutuando sobre o chão, duas artes esculpidas em pedras sabão, pisando levemente, surgidas das mãos divinas do mestre Antônio Francisco Lisboa, nos mistérios e nas histórias de Vila Rica do Pilar. 
 
Levanto meus olhos maravilhados, incansáveis, mirando cada detalhe deste conjunto monumental, a inspiração de todos os pintores, Raffaello Sanzio da Urbino, Eugène Delacroix, Rembrandt Harmenszoon van Rijn e Michelangelo di Lodovico Buonarroti, passando por Vincent Van Gogh, Pierre-Auguste Renoir, Oscar-Claude Monet, Pablo Picasso e Leonardo di Ser Piero da Vinci, que ao colocá-la na tela, fez corar de ciúme e inveja La Gioconda, imortalizada em um quadro, no Louvre, na “Cidade Luz”. 
 
Subindo o olhar admiro seu pescoço de Cisne Imperial, majestoso nos lagos dos jardins do Palácio Dom João VI, localizado na altitude que parece tocar os céus, na secular Petrópolis. 
 
Uma boca, tão cantada pelas curvas que ligam e levam a Parati, com seus encantos e enigmas, quando surge o anoitecer. 
 
Pura inspiração de Niemeyer, visualizando os lábios criou o Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, Capital da Literatura, onde sob as árvores da Avenida João Pinheiro, caminhavam Drummond, Pedro Nava, Darcy Ribeiro, Murilo Mendes, Otto Lara Rezende, Carolina Maria de Jesus, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pelegrino, rindo das frases do Ziraldo. 
 
O nariz, milimetricamente pensado, calculado pelo exímio geômetra, filósofo e sábio, deixando como principal contribuição a matemática, a brilhante descoberta: O quadrado da medida da hipotenusa é igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos. “Como vaticinou “Pitágoras de Samos”, em seu eterno, exato e incontestável, Teorema. 
 
Olhos apertadinhos, descritos pelo nosso maestro soberano, Antonio Carlos Jobim, cantada por Dick Farney dialogando com Lúcio Alves, em “Teresa da Praia”. 
 
Aos poucos se abrem, fazendo surgir uma cor que nem mesmo a natureza conseguiu igualar, todas as tonalidades de verdes nas plantas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, “Cidade Maravilhosa” ou as gemas escondidas nas grutas e rochas da cidade de Esmeraldas, Minas Gerais. 
 
Quando estão totalmente abertos, duas verdejantes borboletas, saindo do casulo, pousando na sua testa, tal qual o plano ao longe, sobre os trilhos da Estrada de Ferro do Corcovado, Parque Nacional da Tijuca, que levam ao Cristo Redentor, com seus braços abertos sobre a Guanabara. 
 
Duas faces divinas, protegidas por fios meio cacheados, castanhos claros, um pouco ruivos, lembrando os novelos que se desenrolam, plagiando a letra: “Parece um cordão sem ponta pelo chão desenrolado, ligando tudo que encontra a terra de lado a lado”. 
 
Edu Lobo definiu com exatidão a estrada comparada aos seus cabelos, ao descerem sobre as pedras, são capazes de causar cobiça às  águas que descem das cachoeiras da Serra da Canastra, com seus encantos, inundando o Vale até a Nascente do Rio São Francisco. 
 
Tudo o que foi criado pelos séculos e séculos, tem em você e seu corpo, não só as Sete Maravilhas do Mundo, mas sim, todo o belo que compõe o Universo. 
 
Quando escrevemos, a nós é reservado o direito a imaginação, como um dos versos, do músico, escritor e poeta, Francisco Buarque de Hollanda, em “Moto Contínuo”: “Um homem pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo, se for por você, basta sonhar com você”. 
 
Nas penas, no coração e na mente de quem tece palavras, ficam guardadas, intimidades, sigilos, segredos e mistérios, vez ou outra e raramente, são abertos seus cadeados e soltos ao sabor do vento, no brilho do luar e nos raios do Sol. 
 
Deixamos sair pelas frestas, vontades, desejos, ilusões, invenções, pensamentos e quimeras. 
 
Rapidamente são trancados, cerrando os ferrolhos e trincos, recolhendo as fantasias, retornando às realidades. 
 
* Agente cultural 

Postagens relacionadas

O Equador e sua literatura (18): Fanny Carrión de Fierro 

William Teodoro

Mulher, Você Pode!

Redação 1

A cidade para as pessoas

Redação 1

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com