Parece que foi ontem.
Depois que as famílias ricas deixaram de enviar suas filhas para estudar na França, Suíça e em outras partes da Europa, as jovens brasileiras se tornaram as privilegiadas alunas da antiga Escola Normal (hoje seria 2º grau).
A “linda normalista” da música de Nelson Gonçalves, que “não pode casar ainda, só depois que se formar”, tinha a meta de ser a “professorinha” do Brasil. Era o trabalho preferencial do futuro desenhado para a mulher nos anos 50 e 60.
Os jovens tinham o seu primeiro emprego numa loja do comércio ou estudavam numa escola profissionalizante como a Industrial (estadual) ou no Senai. O ensino do Senac (comerciário) absorvia as propostas de um futuro promissor dentro da realidade da época (sem computador, nem automação, robotização, globalização).
O desenvolvimento projetado para a juventude focava a intensão de um dia ser bancário, trabalhar numa carreira de um Banco, especialmente o do Brasil, o do Estado ou na Caixa Econômica (Estadual ou Federal). Eram mais vantajosos, quanto ao salário e os benefícios na aposentação.
Era também a época de se sonhar com o serviço público, funcionário (estatutário) ou empregado (CLT), na Prefeitura da cidade (Município), repartição do Estado ou Federal. O ingresso era quase sempre graças ao “qi” (quem indica) de um amigo, político influente da comunidade. Prática que se tornou um abuso. Empresa dos Correios foi a mais cobiçada. Famílias inteiras deram um “jeitinho” e se efetivaram. Também nos Estados e Municípios. E não se dava o nome “corrupção”.
Em 1988 a Constituição atacou o problema. Acabou a era dos bilhetinhos para nomeações. Até concurso interno (para mudar de carreira) tornou-se obrigatório. Salvo para cargos técnicos ou próprios para ajudar o político que esteja no cargo. Estes não são permanentes, ficam no posto enquanto o governante quiser ou esteja no comando. Estes servidores se multiplicaram, uma alternativa para driblar o concurso, num quadro precário de servidores fixos. Ou para amparar os seus apoiadores de campanha. Nem todos os governantes abusaram dessa estratégia.
Até o inicio dos anos 80 ainda era a época das “vacas gordas”. Só se lutava para conseguir mais, melhorar os ganhos mensais, incorporações e agregar vantagens para o período pós aposentação. Tudo que a estabilidade oferecia.
Mas já se notava que a relação tão próxima dos governados “seduzia” (ou constrangia mesmo) os governantes que acabavam encaminhando ao Legislativo propostas de mais concessões. Eram aprovadas. O resultado disso é a elevação do custo de pessoal, com folha de vencimentos/salários onerosa (nem tem para outras necessidades, como saúde, segurança, infraestrutura, etc).
Servidores públicos se tornaram privilegiados, com ganhos elevados comparando-se aos da iniciativa privada.
Aprofundou-se a crise das “vacas magras” e agora empurraram aos Estados e Municípios o dever de organizar suas previdências. Esta prática está dificultada com a relação de proximidade entre governados (servidores) e governantes. O nível de pressão será intenso. É preciso rever os quadros de carreira e, a partir daí, reorganizar a previdência interna de cada ente público.
Do contrário, podemos estar caminhando para uma crise similar a de outros países, como Chile, por exemplo.
O sonho do serviço público, estável, vantajoso, acabou, como a Escola Normal…