Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
O fogo fora de controle está castigando todo o Brasil este ano como a reportagem do Tribuna Ribeirão mostrou em reportagens especiais sobre o tema publicadas recentemente. Com menos chuvas e picos de calor extremo, os focos registrados batem recordes, sobrecarregando brigadas, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Ambiental.
O pior momento até agora para a região de Ribeirão Preto ocorreu entre os dias 22 e 25 de agosto com as queimadas atingindo simultaneamente diversas cidades. O excesso de poeira, misturada com fumaça e ventos fortes, mudou de forma repentina a cor da paisagem no final da tarde do sábado, dia 24.
O fogo colocado em diversos pontos resultou em mortes de animais, além de prejuízos para o solo e economia regional. Mesmo a chuva do domingo, seguida por queda nas temperaturas, não apagou o sinal de alerta. O governador Tarcísio de Freitas montou um gabinete de crise na região e contou com a ajuda das Forças Armadas no combate às chamas e prisão de suspeitos.
Especialistas em agronomia, veterinária e biologia alertam para os riscos que esses incêndios trazem aos ecossistemas, comprometendo a saúde ambiental e a sustentabilidade agrícola. A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) que conta, atualmente, com 33 associações de fornecedores de cana e representa mais de 12 mil produtores de cana-de-açúcar, fez um balanço preliminar dos impactos dos incêndios que atingiram propriedades rurais no estado de São Paulo.
Foram identificados mais de 2,1 mil focos de incêndios, que resultaram em cerca de 59 mil hectares queimados em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana, prejuízo estimado de R$ 350 milhões. “Percebemos redução na produtividade na ordem de 50%, até por essa perda de biomassa que acabou sendo incendiada. Com isso, já temos impactos diretos nos preços do etanol e do açúcar e no canavial do próximo ciclo”, afirma José Guilherme Nogueira, CEO da Orplana em nota oficial.
Negócios em cinzas
Circularam pela internet dezenas de vídeos de animais silvestres e comerciais mortos. Plantações de outras culturas devastadas e imóveis consumidos pelo fogo. O restaurante “Zé Goleiro” e a queijaria Lagoa estão entre as empresas da região que foram atingidas pelo fogo, com grandes prejuízos.
Alguns dos efeitos nocivos do fogo serão sentidos em médio e longo prazo. Segundo o zootecnista e pecuarista Otoni Ernando Verdi, as queimadas afetam diretamente a estrutura e a fertilidade do solo. “O fogo destrói a matéria orgânica presente no solo, que é crucial para a retenção de água e nutrientes. Sem alimento as culturas ou o pasto não se desenvolvem direito ou é necessário muito mais investimento. No caso do gado a solução é transferir os animais, confinar ou vender a preço baixo”, explica.
Ele afirma que são pelo menos 60 dias para recuperar um solo queimado, contando com o início das chuvas mais volumosas. “É um prejuízo gigante para qualquer produtor rural. Por exemplo nem mesmo o arame das cercas pode ser reaproveitado. Cada mil metros de cerca custam em média R$ 20 mil. São tantos problemas que a decisão pode ser abandonar a atividade”, lamenta.
A ameaça à fauna está na destruição dos habitats naturais, desequilíbrio ecológico e pelo risco de morte de animais. Muitos não conseguem escapar das chamas e acabam morrendo carbonizados. Os que sobrevivem enfrentam a escassez de alimento e água, além da perda de refúgios naturais.
O fogo descontrolado também provoca perda de biodiversidade vegetal, essencial para a manutenção dos ecossistemas. Muitas espécies de plantas, especialmente aquelas endêmicas e de crescimento lento, são incapazes de se regenerar após uma queimada. Isso leva à simplificação da paisagem vegetal, com a substituição de espécies nativas por invasoras, menos adaptadas e menos eficientes na proteção do solo e no suporte à fauna local.
Os especialistas concordam que as consequências das queimadas vão além dos danos imediatos. A recuperação de áreas queimadas é um processo lento e, em alguns casos, pode levar décadas. A falta de medidas eficazes de prevenção e recuperação pode levar à desertificação de áreas inteiras, com impactos econômicos e sociais significativos, especialmente em regiões dependentes da agricultura.
Atendimento aos animais
A prefeitura de Ribeirão Preto ajudou no trabalho de socorro aos animais silvestres atingidos pelas queimadas. Em nota a Secretaria de Meio Ambiente informou que entre os dias 22 e 25 de agosto, deram entrada no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (CETRAS), Morro de São Bento, cinco filhotes de gambás e um tamanduá bandeira (já em óbito).
O Bosque não registrou focos de incêndio, segundo a prefeitura, “em razão dos serviços de aceiros preventivos realizados, bem como os hidrantes instalados no Alto do São Bento, Jardim Japonês e o Mirante que permitem irrigações preventivas frequentes”.
Quanto aos animais vitimados pelos incêndios florestais, estes são triados e têm as vias aéreas desobstruídas, recebem fluidoterapia e oxigenação para recuperação dos sinais vitais. Em seguida, exames laboratoriais auxiliam no monitoramento das funções metabólicas e o manejo nutricional é dedicado à reabilitação para a soltura em ambiente natural.