Por Geovana Melo, especial para o Estadão
Quem vai ao cinema após o fim das restrições por conta da pandemia de covid-19 pode ter notado: as salas voltaram a ser frequentadas, mas não parecem tão cheias quanto antes do lockdown de 2020.
Os números do primeiro semestre de 2023 comprovam essa impressão O público retornou, mas com menos peso. Em ano de lançamentos esperados pelo público, como Velozes & Furiosos 10, Avatar e A Pequena Sereia, a presença nos cinemas brasileiros não voltou a ser a mesma de antes da pandemia.
Em 2023, pelo menos 48 milhões de ingressos já foram vendidos em salas comerciais no Brasil até o dia 4 de junho. No mesmo período de 2019, ano anterior à crise da covid-19, foram 77 milhões de ingressos vendidos. Os dados são da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
O número de espectadores registrados até junho deste ano é cerca de 22% maior do que no mesmo período de 2022, mas ainda 37% abaixo do alcançado em 2019. Atualmente, uma sala de cinema tem em média 30 pessoas por sessão. Em 2019, eram 42 espectadores.
Os números atuais mostram ainda que há uma menor quantidade de obras audiovisuais exibidas no Brasil. São 64 títulos a menos do que os registrados em 2019. Segundo especialistas, a baixa procura do público pelas salas de cinema pode estar relacionada com a pandemia, mas também com a presença cada vez maior das plataformas de streaming na vida dos espectadores.
Fontes do mercado citam como principais motivos para que o antigo patamar não tenha sido alcançado: a perda do hábito de ir ao cinema durante a pandemia; e a expectativa de os filmes estrearem logo em streaming.
NOVOS HÁBITOS. Para a produtora cinematográfica Bianca de Felippes, da Gávea Filmes, “o público se acostumou” a ver produções audiovisuais em casa. Há também a facilidade de que os mesmos filmes que estão nas telonas sejam vistos pouco tempo depois pelas plataformas digitais.
“Acho que as pessoas ainda não voltaram a ter o prazer de sentar numa sala escura e ver o filme, que não é substituído pelo streaming. Acredito que (esse hábito) vai voltar, mas está difícil. Está demorando mais do que a gente achava”, relata a produtora. Ela, no entanto, acredita que o caminho é continuar oferecendo bons títulos ao público. “O que está acontecendo é um reflexo dos três anos em que ficamos dentro de casa. Temos de continuar produzindo e fazendo filmes.”
A menor procura também pode ser explicada pela alta de 21% no preço médio dos ingressos, segundo dados da Ancine. “Os custos de cinema no Brasil não são baixos e o brasileiro médio sofre para colocar isso em seu orçamento mensal”, pontua Alan Ceppini, chefe de estratégia do grupo de comunicação Alpes.
Segundo o executivo, hoje em dia, todas as telas são concorrentes, seja a TV aberta, seja o streaming, seja o cinema. Para ele, a estratégia está no conteúdo e “não mais em qual plataforma estará o comunicador”.
OTIMISMO. Apesar de as salas de cinemas não voltarem ao patamar pré-pandêmico, o cenário já está melhor do que durante a crise, quando cinemas não podiam funcionar e salas foram fechadas.
“Na verdade, o público voltou às salas de cinema. Acompanhando a bilheteria dos anos de 2020 e 2021 vemos grandes blockbusters fazendo milhões de espectadores. O que eu vejo é que as salas perderam um pouco a força”, afirma o produtor audiovisual e pesquisador pela Universidade Federal de Sergipe Adhemar Lage.
Mesmo com as dificuldades citadas, segundo a Ancine, os dados permitem um leve otimismo. “O número de sessões programadas por semana vem se recuperando e hoje é apenas 11% inferior ao de 2019. Da mesma forma, o parque exibidor volta a ter mais de 3 mil salas em atividade”, acrescenta a entidade, em nota.
As informações são do jornal O Estado de São Paulo