Há diferentes tipos de desordens psicológicas causadas pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Neste contexto, a Psicologia da Saúde Mental preocupa-se com o entendimento da natureza, das causas e dos tratamentos das desordens mentais contextualizadas em nosso cotidiano. O Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais (DSM-5), obra com descrições e listas de sintomas voltados à identificação e diagnóstico acurados das desordens mentais, além de critérios para os diagnósticos específicos de cada desordem apresentada, cria um vocabulário para que um diagnóstico específico signifique a mesma coisa para diferentes especialidades clínicas. Segundo o Manual, uma desordem mental é uma síndrome que está presente em um indivíduo, envolvendo perturbações clinicamente significativas no comportamento, na regulação das emoções ou no funcionamento cognitivo, refletindo disfunção nos processos biológicos, psicológicos ou evolutivos.
O DSM-5 também reconhece que desordens mentais são usualmente associadas com estresse significativo ou incapacidade em áreas fundamentais do funcionamento, tais como atividades sociais, ocupacionais ou outras atividades. É também importante considerar que este padrão disfuncional de comportamento não decorra de desvios sociais ou conflitos que a pessoa tenha com a sociedade como um todo. Entretanto, a despeito da fidedignidade e do amplo uso do Manual, ainda não existe um consenso universal sobre o que significa anormalidade ou desordem mental. Não estamos dizendo com isso que não haja definições sobre as mesmas. Existem várias. O que estamos dizendo é que uma única definição completamente satisfatória provavelmente sempre permanecerá elusiva.
Não sendo um único comportamento que faz com que uma pessoa seja considerada anormal, há, todavia, indicadores que pontuam uma determinada anormalidade em um indivíduo. Logo, nenhum simples indicador é suficiente, por si próprio, para definir, ou determinar, uma anormalidade. Não obstante, quando uma pessoa tem dificuldades numa dada área comportamental, é muito mais provável que ela tenha uma desordem mental. Segundo Hooley et al, em Abnormal Psychology (Pearson, 2021), há alguns indicadores que podem melhorar a validade, a consistência e a fidedignidade da avaliação diagnóstica de uma condição clínica mental dos indivíduos. Vamos a eles.
(1º) Estresse subjetivo. Não é uma condição suficiente para determinar todos os casos de anormalidades consideradas como anormais. (2º) Falta de adaptabilidade. Interfere com o bem-estar humano e com a habilidade para apreciar nosso trabalho e nossos relacionamentos. Mas, nem todas as desordens envolvem comportamento mal adaptativo. (3º) Desvio estatístico. Considerar um comportamento estatisticamente raro como sendo anormal não nos fornece uma solução para o problema de definir anormalidade. (4º) Violação dos padrões da sociedade. Tais comportamentos dependem da magnitude da violação e de quão comumente a regra é violada pelos outros. (5º) Desconforto social. Nem todas as regras são explícitas, nem todas as regras nos incomodam quando são violadas. Não obstante, quando alguém viola uma regra social implícita ou não escrita, aqueles ao redor dessa pessoa podem demonstrar um desconforto ou constrangimento. (6º) Irracionalidade e imprevisibilidade. Nós esperamos que as pessoas se comportem de certa maneira, mas, embora um pouco de inconvencionalidade possa ser, de algum modo, permitida, há um ponto em que, provavelmente, consideramos um dado comportamento não ortodoxo como anormal. O fator mais importante, neste caso, é nossa avaliação de verificar se a pessoa pode controlar tal comportamento. (7º) Periculosidade. Parece razoável pensar que alguém que é perigoso para si próprio e para outra pessoa deva ser psicologicamente anormal. De fato, os terapeutas são requeridos a hospitalizar pacientes com ideações suicidas, ou contatar a polícia para tal, assim como, alertar a pessoa que é alvo de ameaça para que assim o faça caso sofra ameaças explícitas de ser atacada ou ferida por outra pessoa.
Logo, decisões sobre o que seja um comportamento anormal sempre envolvem julgamentos sociais, baseados em valores e expectativas da sociedade como um todo. Isso significa que cultura desempenha um papel em determinar o que é e o que não é anormal.