Nesta quarta-feira (30) os chilenos entram no 13º dia de protestos – 19 pessoas morreram. Havia uma atmosfera festiva no início da noite na Plaza Italia, com críticas ao modelo econômico dominado pelo mercado, com o sistema previdenciário total ou parcialmente privatizado e custos elevados para se obter saúde e educação. Em várias ruas próximas o quadro era mais tenso, com grupos de manifestantes mascarados ateando fogo a cestos de lixo e árvores em um parque local, antes de a polícia usar gás lacrimogêneo e jatos d’água para dispersá-los.
Tentativas de marchar até o palácio presidencial La Moneda foram barradas por barricadas policiais. A aprovação do presidente Sebastián Piñera está em 14%, segundo pesquisas recentes. Piñera recuou do aumento no metrô e fez outras concessões, mas não conseguiu até agora conter os protestos. Manifestantes têm se concentrado agora em tentar mudar a Constituição, dizendo que o foco dela em priorizar o controle privado sobre praticamente qualquer aspecto da economia é a raiz dos problemas nacionais, seja quem for o presidente.
Milhares de chilenos lotaram uma praça no centro da capital, na terça-feira (29), no 12º dia de manifestantes que começaram como atos contra uma alta no preço da passagem de metrô e se tornaram um movimento nacional por mais igualdade e melhores serviços públicos, em um país visto há tempos como um caso de sucesso econômico.
Ainda na terça-feira, o líder do partido Renovação Nacional, Mario Desborde, disse apoiar uma reforma constitucional. A sigla é uma das três que apoiam Piñera no Congresso. Seis partidos oposicionistas controlam a Câmara dos Deputados e o Senado e aprovam mudanças na Constituição, mas não têm votos suficientes para isso, tornando o apoio das siglas governistas crucial. Partidos da oposição se reuniram na terça-feira para tentar avançar nessa reforma.
Família Bolsonaro
Mais de 30 organizações da sociedade civil cobram explicações do presidente Jair Bolsonaro sobre sua declaração dada no dia 23 de que acionou o Ministério da Defesa para monitorar possíveis protestos no Brasil, semelhantes aos que ocorrem atualmente no Chile. Bolsonaro disse ainda que, se preciso, pode acionar as Forças Armadas.
As entidades enviaram um ofício à Procuradoria dos Direitos do Cidadão, protocolando um pedido de explicações ao Executivo. De acordo com o documento, o teor da declaração de Bolsonaro pode significar uma ameaça a direitos fundamentais previstos na Constituição, como “direitos à intimidade, à vida privada e à imagem das pessoas, assim como as liberdades de reunião e de manifestação do pensamento”.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta terça-feira (29), na Câmara, que caso protestos como os que ocorrem no Chile cheguem ao Brasil, os manifestantes teriam de “se ver com a polícia”. Numa eventual radicalização, segundo o deputado, “a gente vai ver a história se repetir”, sem mencionar a que fato histórico se refere.
“Não vamos deixar, não vamos deixar isso aí vir para cá. Se vier para cá, vai ter de se ver com a polícia. E se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como é que a banda vai tocar”, disse o filho do presidente, outro que defende as atrocidades cometidas na ditadura de Augusto Pinochet.