O juiz Sylvio Ribeiro de Souza Neto, da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, condenou quatro homens suspeitos de participação no mega-assalto da empresa de transporte e guarda de valores Prosegur, na avenida da Saudade, nos Campos Elíseos, em Ribeirão Preto, na madrugada de 5 de julho de 2016. Somadas, as sentenças chegam a 481 anos. A quadrilha fugiu com R$ 51,2 milhões e duas pessoas morreram, um policial militar e um morador de rua.
Foram condenados Ângelo Aparecido Domingues dos Santos e Juliano Moisés Israel Lopes – presos dez dias após o assalto em um hotel em Caldas Novas (GO), com parte do dinheiro roubado, vão cumprir penas de 121 anos cada –, um ex-funcionário da empresa que teve o nome mantido sob sigilo (116 anos) e um dos supostos líderes da quadrilha, Diego Moura Capistrano, de Viradouro, que está foragido. Ele recebeu a maior pena, de 123 anos. Também é apontado como financiador do ataque que levou pânico e terror à vizinhança.
O magistrado considerou cinco crimes de latrocínio – roubo seguido de morte –, quatro tentativas de assassinato, incêndio com morte, receptação de um colete à prova de balas, furtado durante um assalto a banco, e pela posse de fuzil, munição e dinamite, apreendidos dias depois, em cofre de um veículo utilizado pelos assaltantes. Outras quatro pessoas foram denunciadas por participar do crime, mas ainda não houve condenação. Por causa da morte do policial militar rodoviário Tarcísio Wilker Gomes, os criminosos receberam a pena máxima de 30 anos.
O advogado de defesa de Diego Capistrano, Thiago Lacerda Pereira, não pode comentar a respeito da condenação porque o caso está sob sigilo, além de a decisão ainda não ter sido publicada no Diário Eletrônico da Justiça. No entanto, diz que deve recorrer da sentença. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MPE) recorreu da sentença, em relação à absorção de alguns crimes e à aplicação das penas dos delitos de posse de armas militares e explosivos encontrados em um veículo, dias após o assalto.
Naquela madrugada, durante uma hora, disparos de fuzis e metralhadoras foram ouvidos em vários bairros da cidade, além de três explosões. Em fuga pela Rodovia Anhanguera (SP- 330), os assaltantes atiraram em dois policiais militares rodoviários que faziam patrulhamento próximo ao quilômetro 321. Um deles, o soldado Tarcísio Gomes, foi atingido na cabeça e chegou a ser socorrido, mas morreu na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE). O morador de rua Ubiratan Soares Berto, de 38 anos, foi a segunda vítima do grande assalto. Natural de Pernambuco, ele estava embaixo de um dos carros incendiados pelo grupo.
Ele foi levado para o Hospital das Clínicas com 60% do corpo queimado, mas não resistiu. Os bandidos fugiram levando R$ 51,2 milhões e, até agora, apenas R$ 194 mil foram recuperados. Parte estava com Domingues Santos e Lopes (R$ 160 mil) em um resort em Rio Quente (GO) e a outra com um suspeito preso bairro Jardim José Sampaio, Zona Norte de Ribeirão Preto, com armas e R$ 34 mil em dinheiro.
A Prosegur construiu uma nova sede no Parque Lagoinha, na Zona Leste. O prédio tem muros de dez metros de altura. O dinheiro recuperado foi restituído à Prosegur. Veículos utilizados no assalto, que foram abandonados em cidades da região de Ribeirão Preto, e que eram frutos de roubo ou estavam em nomes de laranjas, também foram devolvidos aos proprietários.
O diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter-3), João Osinski Junior, disse que o grupo estava preparado para enfrentar um batalhão. Segundo o delegado, mais de mil tiros de fuzil foram disparados em 40 minutos contra os policiais. O grupo usou pistolas, fuzis 556 e 762, metralhadoras ponto 50, além de fuzis AK-47, que entraram no país pela Venezuela. Para acessar o cofre, a quadrilha explodiu o prédio com dinamite. Ao todo, 20 fuzis e duas metralhadoras ponto 50 foram apreendidos.