Vacinação do Butantan faz despencar em 95% as mortes e em 80% os casos de Covid-19 em Serrana: Coronavac foi aplicada em 27 mil moradores adultos
O governador João Doria (PSDB) acompanhou nesta segunda-feira, 31 de maio, (31) a divulgação de resultados do “Projeto S”, coordenado pelo Instituto Butantan para vacinar a população adulta do município de Serrana contra o coronavírus. Com 95% dos habitantes acima de 18 anos protegidos pela Coronavac, a pesquisa científica inédita mostrou quedas significativas de 95% em mortes, 86% de internações e 80% em casos sintomáticos de covid-19 na cidade da Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
“O estudo indica também que, com 75% da população-alvo imunizada com as duas doses da vacina Coronavac, a pandemia foi controlada em Serrana e isso pode se reproduzir em todo o Brasil”, afirma o governador. “Os resultados demonstram de forma categórica o que poderia estar acontecendo no Brasil inteiro, não fosse o atraso na vacinação. Demonstra também que só existe um caminho para controlar a pandemia: vacina, vacina e vacina para todos os brasileiros”, acrescenta.
O estudo clínico de efetividade teve início em fevereiro e se estendeu até abril. A redução dos indicadores da pandemia foi constatada com a comparação dos dados registrados antes e depois que cerca de 27 mil moradores com mais de 18 anos completaram o ciclo de imunização com duas doses da vacina do Butantan, com intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda aplicação. Serrana tem ao todo 45.644 habitantes.
A pesquisa mostra que a vacinação protege tanto os adultos imunizados quanto crianças e adolescentes que não receberam a vacina. A população total de Serrana é estimada em torno de 45 mil pessoas. A imunização gerou uma espécie de cinturão imunológico em Serrana, reduzindo drasticamente a transmissão do coronavírus no município.
A incidência da covid-19 em Serrana também despencou em comparação às cidades vizinhas. Enquanto a região apresenta alta nos casos de coronavírus, Serrana manteve taxas baixas de contágio graças à vacinação. Mesmo com cerca de dez mil moradores que transitam por outras cidades diariamente, Serrana alcançou um cenário de controle da pandemia.
“A vacina do Butantan é segura, eficaz, eficiente, de altíssima qualidade e contribui para prevenir o desenvolvimento da doença, complicações e óbitos entre os infectados. Agora também sabemos que ela provoca efeito benéfico em uma população inteira, protegendo tanto os vacinados quanto os não vacinados e reduzindo a circulação viral de forma expressiva”, afirma Dimas Covas, diretor do Butantan.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa liderada pelo Butantan é aprovada seguiu rígidos critérios éticos e sanitárias e foi efetuado em parceria com a Faculdade de Medicina USP de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP) e da prefeitura de Serrana.
O método usado no ensaio clínico é chamado de implementação escalonada por conglomerados (stepped-wedge trial, na denominação em inglês). A cidade foi dividida em 25 subáreas, formando quatro grandes grupos populacionais que receberam o imunizante em semanas sucessivas.
A vacina foi oferecida a todos os maiores de 18 anos elegíveis para o estudo em quatro etapas e datas distintas. O estudo também concluiu que moradores dos dois últimos grupos foram beneficiados com redução na transmissão do vírus gerada pela imunização das pessoas vacinadas nas primeiras regiões.
O diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, disse que o escalonamento sequencial permitiu avaliar e comparar as quatro áreas vacinadas. “Percebemos que os fenômenos observados não acontecem aleatoriamente, mas se repetem nos quatro grupos em momentos diferentes”, explicou.
“O resultado mais importante foi entender que podemos controlar a pandemia mesmo sem vacinar toda a população. Quando atingida a cobertura de 70% a 75%, a queda na incidência foi percebida até no grupo que ainda não tinha completado o esquema vacinal.”
Segundo Palacios, a pesquisa confirmou também o efeito indireto da vacinação, já que foi possível comprovar a proteção de populações não imunizadas, como crianças e adolescentes. “A redução de casos em pessoas que não receberam a vacina indica a queda da circulação do vírus. Isso reforça a vacinação como uma medida de saúde pública, e não somente individual.”
A escolha de Serrana
Serrana foi escolhida para sediar o “Projeto S” porque apresentava alto índice de prevalência de infecções por covid-19, além de estar perto de um centro universitário e ter um hospital regional. O objetivo do Instituto Butantan foi estudar o impacto epidemiológico da vacinação no conjunto da população adulta, sob o ponto de vista de contenção da pandemia.
“As importantes conclusões do estudo poderão embasar as estratégias de imunização no Brasil e no mundo, e oferecem uma esperança do controle da pandemia com vacinas como Coronavac, que foi desenvolvida numa parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e o Butantan”, afirma Dimas Covas, diretor do Butantan.
Para ele, o estudo de fase 4 comprovou a eficiência da vacina como estratégia de saúde coletiva. Os ensaios clínicos de fase 3, feitos entre julho e dezembro de 2020, já haviam assegurado a eficácia do imunizante, com índices que variaram de 50,7% a 62,3% para casos sintomáticos e de 83,7% a 100% para ocorrências com exigência de assistência médica.
- Índices da pandemia Casos sintomáticos – Queda de 80% (IC95 76,9% – 82,7%)
- Internações – Queda de 86% (IC95 74,1% – 92,3%)
- Mortes – Queda de 95% (IC95 62,7% – 99,3%)