Um dia após apresentar aos vereadores um projeto de reformulação do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM), o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) encaminhou para a Câmara, nesta quinta-feira, 11 de julho, a proposta de reformulação do órgão previdenciário. Entre as principais mudanças apuradas pelo Tribuna estão a criação de um Fundo Imobiliário, a destinação dos recursos da dívida ativa futura como receita para o IPM e o aumento da alíquota de contribuição de 11% para 14% para os servidores e de 22% para 28% para a prefeitura.
O Fundo Imobiliário a ser criado será responsável por receber os recursos das vendas e locações dos imóveis pertencentes ao município, que serão repassados para o instituto. Já a vinculação da dívida ativa futura – ou seja, a partir da entrada em vigência da lei – significa que todo débito pago pelo contribuinte inadimplente será destinado para o Fundo Previdenciário do IPM. A duração desta transferência prevista no projeto é de 75 anos. Vale lembrar que é incluído na dívida ativa todo débito existente com a prefeitura que mude de exercício fiscal, isto é, de um ano para o outro.
Só para se ter uma ideia do volume de recursos que esta medida pode significar, basta analisar o total de inadimplentes e o valor devido à Secretaria Municipal da Fazenda. Até o começo de fevereiro, 105.909 contribuintes estavam inscritos na Dívida Ativa do município. O número representa 15% da população de Ribeirão Preto, atualmente de 694.534 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O valor dos débitos totaliza R$ 656.261.345,86. São anteriores a eventual aprovação da lei e, portanto, não seriam repassados ao IPM caso a prefeitura consiga recebê-los.
Reengenharia financeira
O projeto prevê também uma parceria entre a prefeitura e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – ligada à Universidade de São Paulo (FEARP/USP) –para uma reengenharia financeira que resulte na transferência de forma gradual de servidores ativos do Fundo Financeiro, hoje com problemas de caixa, para o Fundo Previdenciário, que não enfrenta este tipo de dificuldades. Mudanças na forma de pagamento das pensões futuras também fazem parte do projeto.
Durante o encontro com os 14 vereadores, o prefeito contextualizou as dificuldades crescentes sofridas pela administração pública para arcar com o pagamento de aposentados e pensionistas nos últimos anos. Em 2017, entre dívidas acumuladas e transferências necessárias, a prefeitura fez um aporte de R$ 120 milhões ao instituto, além do recebimento patronal e funcional das alíquotas de 22% e 11%, respectivamente.
Em 2018, o valor se aproximou de R$ 200 milhões e, para este ano, a previsão é que chegue a R$ 550 milhões para uma receita de contribuições da prefeitura e dos servidores de R$ 200 milhões. “Para o ano que vem, a estimativa é que este valor chegue a R$ 585 milhões. Estamos fazendo tudo o que nos cabe e aguardando as mudanças que virão na reforma da Previdência”, afirma o prefeito. A proposta foi elaborada com base na legislação existente no Instituto Previdenciário da prefeitura de Goiânia (GO).
Os fundos do IPM
Atualmente, o IPM tem dois fundos para o pagamento de aposentadorias dos servidores e pensionistas: o financeiro e o previdenciário. O Fundo Financeiro não tem reserva de recursos e é responsável pelo pagamento das aposentadorias de cerca de 5.875 aposentados e pensionistas que ingressaram na prefeitura antes de 2011 e já se aposentaram. Este pagamento é feito com o dinheiro obtido mensalmente através das contribuições previdenciárias dos servidores ativos que também ingressaram na Prefeitura antes de 2011, mas, ainda estão na ativa.
O sistema é semelhante ao do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em que quem trabalha com registro em carteira paga para aqueles que se já estão aposentados. O grande problema do Fundo Financeiro é que os recursos oriundos das contribuições dos servidores municipais que estão na ativa não cobrem o valor necessário para pagar as aposentadorias.
Resultado: por força de lei municipal, a prefeitura é obrigada a complementar a diferença. Já o déficit atuarial, ou seja, o que o IPM precisaria para o pagamento das aposentadorias caso todos servidores se aposentassem – considerando a expectativa de vida do brasileiro – é de R$ 15 bilhões.
O outro sistema de aposentadoria existente no IPM é o do Fundo Previdenciário. É semelhante a uma previdência complementar individual, só que, no caso do município, é coletivo. Criado em 2011, estabelece que todo servidor contratado a partir deste ano tenha suas contribuições previdenciárias recolhidas para este fundo de reserva que será responsável pelo pagamento de sua aposentadoria quando isto acontecer. Uma espécie de poupança que tem dado rendimentos acima da inflação 6%.
Atualmente, tem mais de R$ 400 milhões em reserva e será responsável pelo pagamento de quatro mil aposentados e pensionistas. Hoje, 233 aposentados e pensionistas recebem por este sistema. Vale lembrar que os recursos dos contribuintes do Fundo Previdenciário não podem, em hipótese alguma, serem utilizados para os pagamentos aos pertencentes ao Fundo Financeiro. A folha total de benefícios do IPM em junho foi de R$ 39.664.947,50.