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Projeto de Rael foi iniciado para TV, ganha os palcos e se tornará um álbum

Por Pedro Antunes

“Ô, da rima!”, chamava o amigo Cebola, durante a adolescência no Jardim Iporanga. Israel Feliciano atendia. Era o rimador, afinal. Rael da Rima tornou seu nome. E por anos seguiu Ao rimador, as rimas. E Rael, até 2013, era chamado para versar no improviso, em programas de rádio, TV e por onde passasse. “E via uma molecada chegando, mais jovem, ótimos rimadores. Como eu seria o da Rima se eles eram melhores do que eu?”, pergunta. Há quatro anos, ele deixou o “sobrenome artístico”. Tornou-se Rael, apenas. Expandiu-se, artisticamente, para voar para a direção que quisesse. Rimador ou cantor? O que importa?

O processo de expansão já estava dentro dele, mas precisava sair E vem sendo despejado aos poucos, a cada um dos seus quatro discos como artista solo. Do universo musical do hip-hop, Rael, aos 35 anos, salta no tempo e no espaço. E, de repente, está, com um violão no colo, a dedilhar um afro-samba de Vinicius de Moraes, datados de 1966. Viaja para o Rio, 50 anos atrás. Passeia pelas memórias afetivas, do garoto da zona sul da capital paulista introduzido ao poetinha pelo pai do rapper. Em 9 de setembro, no Rio, os agitados shows de rap saíram. Entrou o banquinho e o violão. No Theatro Net, na capital carioca, acompanhado por Felipe da Costa (percussão e bateria) e Julio Fejuca (no baixo e violão), estreou o show Rael Canta Vinicius de Moraes, trazido a São Paulo para uma noite única, nesta terça, 17, a partir das 21h.

A explosão do hip-hop, à qual ele está tão acostumado, se condensa. Inverte. Implode.

“Em algumas músicas, tenho vontade de levantar”, brinca o rapper “E curti isso (show com banquinho e violão). Não sei se é porque estou ficando velho, mas é que no show de rap é preciso rodar o palco de um lado para o outro. Nesse formato, você fica sentindo a música, percebendo o que ela tem a dizer. Curti muito Soa como algo mais maduro. O clima é outro.”

A apresentação no Rio de Janeiro impressionou Maria de Moraes, filha de Vinícius. “Ela me disse que ele iria adorar me conhecer”, conta Rael, sobre encontro. O paulistano disse a ela que queria fazer algum registro sobre o show e a resposta foi positiva. No próximo ano, Rael entrará em estúdio para gravar um álbum inteiro com a obra de Vinícius – e possivelmente musicar poemas inéditos.

Como todo projeto, o que se verá no Theatro Net São Paulo não nasceu em um dia. O pai, multi-instrumentista (violão, acordeom, bandolim), lhe tocou certa vez A Felicidade, uma parceria de Vinicius com Antonio Carlos Jobim, o Tom. Há dez anos, o rapper Criolo o chamou para uma apresentação especial com o repertório do multi-artista carioca. Cantaram Canto de Ossanha, do Os Afro-Sambas, criado com Baden Powell. Quando o canal Bis chamou Rael para participar do programa Versões – no qual artistas brasileiros são convidados para fazerem suas versões de clássicos da música -, o rosto de Vinicius clareou as ideias de Rael.

Com cinco ensaios, gravou A Casa, Berimbau e A Felicidade – todas as versões disponíveis no site da emissora. As músicas são interpretações, não leituras idênticas. Rael se permite incluir versos mais contemporâneos às canções. Em A Casa, ele leva o cenário para a periferia, por exemplo. “Certo dia, meu filho chegou com a letra de A Casa, da escola. E fiquei pensando nessa letra”, ele relembra. A versão de Rael inclui uma voz jazzística, solta, a cantar de forma crítica. “Nas periferias, essas casas não são tão engraçadas assim”, diz ele. Na música, ele inclui: “Sem teto, sem privada, sem perspectiva / Quebrada é quebrada, né? / Vida sofrida”, canta Rael, de forma sincopada, acompanhado pela linha desenhada pelo baixo inebriante de Feijuca. “Era uma casa, nada engraçada, não tinha teto, não tinha nada / Não / Não.” O riso dá lugar ao espanto, mas é um choque bom. Os tempos são outros, afinal. A Felicidade tem, nos seus versos, a inclusão de um poema sobre violência urbana. “É fácil eu conseguir me comunicar com o que ele diz nessas músicas”, conta. “Vamos percebendo que muita coisa do discurso de tanto tempo atrás não mudou muito também.”

“O que faz dele ser quem é”, avalia Rael, que continua a encontrar conexões entre o mundo de hoje e o mundo de Vinicius. “É a capacidade que suas canções têm de serem atemporais. Os Afro-Sambas são de 1966, entende? É um álbum de música africana, de candomblé. Era um homem branco falando sobre essas coisas. E vivemos um momento de intolerância religiosa e ele estava lá, falando sobre essas coisas.”

Rael emenda um trabalho o outro. Há tempos não sabe o que é descanso ou férias. Deixou o Pentágono, quinteto de hip-hop com o qual lançou dois discos, caminhou pela carreira solo e, desde 2010, lançou quatro discos. O último Coisas do Meu Imaginário, do ano passado, também se tornou um álbum ao vivo – e é impressionante ouvir o público a cantar com Rael. Em setembro, o rapper se consagrou distante da rima. Ganhou foi laureado como o melhor cantor de cantor de pop/rock/reggae/hip-hop/funk. Melhor cantor. Ouviu, Cebola?

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