Tribuna Ribeirão
Política

Projeto antiterror gera polêmica

CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Deputados bolsonaristas tentaram aprovar na segunda­-feira, 13 de setembro, projeto de lei que, segundo especialis­tas, pode abrir a possibilidade de se criminalizar movimentos sociais e protestos da oposição contra o presidente Jair Bol­sonaro. A proposta cria uma Autoridade Nacional Contra­terrorista, cujos agentes terão autorização para matar, o cha­mado “excludente de ilicitude”.

O projeto diz ainda que agentes terão acesso a toda informação sigilosa de que precisarem para reprimir e prevenir “ato que, embora não tipificado como terrorismo, seja perigoso para a vida hu­mana”, ou qualquer ameaça “potencialmente destrutiva a alguma infraestrutura crítica, serviço público essencial ou recurso-chave” ou que “afete a definição de política públi­ca por meio de intimidação”.

Para a oposição, especialis­tas em segurança e para a As­sociação Nacional dos Procu­radores da República (ANPR), o projeto é a mais nova ameaça do bolsonarismo ao estado de direito e à democracia. Segun­do eles, se aprovado como está, o projeto criará “uma polícia política”, a “KGB de Bolsonaro”.

“O temor é de que a Au­toridade Contraterrorista seja um instrumento para se tornar a polícia política de Bolsona­ro”, disse o líder da oposição na Câmara, Alessandro Mo­lon (PSB-RJ). De autoria do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), o projeto recebeu parecer favorável do Delegado Sanderson (PSL-RS).

Ele foi lido e avançou com a possível aprovação do tex­to na comissão especial que analisa o tema na Câmara. A proposta tem como base um texto apresentado por Bolso­naro quando ele era deputa­do, em 2016. A oposição pe­diu vistas (mais tempo para analisar) e a previsão é de que o projeto seja votado nesta quinta-feira (16).

A autoridade antiterror, segundo o texto do projeto, terá um chefe policial e um chefe militar diretamente su­bordinados a Bolsonaro. Ela terá acesso ilimitado a infor­mações sobre intimidade e privacidade de qualquer ci­dadão. Também poderá infil­trar agentes sem que haja cri­térios que diferenciem ações de combate ao terror de ações de inteligência.

A ANPR condenou a con­centração de poderes nas mãos do presidente pelo risco de se criar “um sistema paralelo de vigilância e segurança”, além da possibilidade de persegui­ção a movimentos sociais e defensores de direitos huma­nos. “O projeto desconsidera o papel do Ministério Público no controle externo da ativida­de policial.”

Para os procuradores, ao estabelecer uma previsão am­pla do conceito de terrorismo e a indicação de um conjunto de atos preparatórios que podem ensejar ações contraterroristas, “o projeto coloca em risco a preservação do núcleo essen­cial de direitos como a liberda­de de expressão, associação e reunião pacífica”.

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