Luiz Paulo Tupynambá *
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Matéria publicada pela Folha de São Paulo em 17 de abril de 2024, da jornalista Isabela Palhares mostra que a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo pretende, já no segundo semestre do corrente ano, produzir aulas digitais com o apoio de ferramentas de Inteligência Artificial Generativa como o ChatGPT. Hoje essa função é exercida por professores especializados conhecidos como curriculistas, que produzem as aulas conforme o conteúdo programático orientado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), onde estão estabelecidas competências e habilidades a serem desenvolvidas em cada etapa da educação básica, dividida em três etapas principais: a Educação Infantil, para crianças de 0 a 5 anos, o Ensino Fundamental, para alunos de 6 a 14 anos e o Ensino Médio, para jovens de 15 a 17 anos que prepara o aluno para o ensino superior e o mercado de trabalho, com ênfase em disciplinas mais avançadas e profissionalizantes. Trata também da Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Profissional e Tecnológica, e Educação Especial, que atendem a necessidades específicas de aprendizagem.
Os professores curriculistas teriam sua função básica modificada gradativamente, de criadores e propositores para a função de “avaliar a aula gerada [pela inteligência artificial] e realizar os ajustes necessários para que ela se adeque aos padrões pedagógicos” (trecho entre aspas retirado da matéria citada). O projeto-piloto terá aulas dos chamados “anos finais” do Ensino Fundamental, os três últimos anos, também conhecido pelos professores como FUND-2. Outra informação da matéria de Isabela Palhares indica que o ChatGPT será “treinado” para gerar as aulas usando como parâmetros o conteúdo produzido nos últimos meses pela equipe de especialistas e de autores consagrados nas áreas específicas.
Após ler a matéria, resolvi perguntar sobre a experiência em produção de aulas para o ensino público ao segundo maior interessado no assunto (o primeiro sempre é o aluno), que é o próprio ChatGPT. Reproduzo aqui o diálogo:
“Pergunta: Você pode me dizer em quais países do mundo o ChatGPT está sendo usado oficialmente para a produção de material escolar?
ChatGPT: Olá! No momento, não há informações disponíveis sobre uma lista abrangente de países que estão usando o ChatGPT oficialmente para a produção de material escolar. No entanto, posso compartilhar que a Unesco realizou uma reunião com ministros da educação de mais de 40 países para discutir o uso do ChatGPT nas escolas. Além disso, o governo do estado de São Paulo, no Brasil, anunciou planos de usar o ChatGPT para criar material didático para aulas digitais em escolas públicas.
A Unesco está desenvolvendo diretrizes políticas sobre o uso de inteligência artificial generativa na educação e pesquisa, que serão lançadas durante a Semana de Aprendizagem Digital (1). Isso indica um interesse crescente e uma possível expansão do uso do ChatGPT em contextos educacionais em vários países. No entanto, é importante notar que as escolas e universidades continuam se adaptando e desenvolvendo políticas para integrar essas ferramentas de forma eficaz e segura”.
1. – (essa informação está defasada, esse evento aconteceu em setembro de 2023, e o governo brasileiro participou ativamente dele, assim como vários proponentes e palestrantes de universidades brasileiras diversas).
Como se vê, a resposta é vaga e fica no “ainda estamos vendo isso aí, quem sabe logo, alguém já deve estar usando…”. Mas aqui, enfatizo o trecho da resposta: “No entanto, é importante notar que as escolas e universidades continuam se adaptando e desenvolvendo políticas para integrar essas ferramentas de forma eficaz e segura”.
Ainda no dia 17, nova postagem da Isabela Palhares traz a opinião do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos): “A gente não pode deixar de usar a tecnologia por preconceito, mas [temos que] usar com parcimônia com todas as reservas necessárias. Nada vai substituir o papel do professor, até porque a responsabilidade dentro da sala de aula é do professor”. Um pouco mais tarde, Isabela Palhares traz a opinião de educadores especializados no assunto, como o professor Bernardo Soares, pesquisador em educação e tecnologia pela Universidade de Lisboa: “Não é uma questão de preconceito com as ferramentas de inteligência artificial, mas de entender qual é a sua finalidade. Elas podem auxiliar em trabalhos mais objetivos. Mas não são adequadas para produções que exigem pesquisa, experiência, curadoria, conhecimento, como é o caso de uma aula”.
Para ajudar a soprar o braseiro que o assunto está provocando, a oposição a Tarcísio afirma que o Secretário da Educação Renato Feder tem uma visão inadequada da educação, pois tem formação em Economia (mestrado na USP) e é graduado em Administração pela FGV. Ele foi Secretário de Educação do Estado do Paraná, entre 2019 e 2022, e assumiu em São Paulo em 2023.
Outro ponto de discordância com ele é o fato de ser empresário da área de informática e equipamentos. É sócio da Multilaser.
É um assunto que tem que ser debatido com maior profundidade e sensatez do que está sendo feito aqui em São Paulo. Na próxima semana, continuarei no assunto, com mais opiniões a favor ou contra.
Sempre esperando que o mundo continue inteiro até lá. Eita!
* Jornalista e fotógrafo de rua