Entidades representativas da cadeia sucroenergética de todo o país enviaram, na última terça-feira, 14 de abril, um documento-manifesto ao presidente Jair Bolsonaro em que relatam os impactos da crise causada pela pandemia de covid-19 para o setor, agravados pelos baixos preços internacionais do petróleo. “Somente as ações do governo federal, se implementadas imediatamente, evitarão o colapso do setor nas próximas semanas”, diz comunicado distribuído à imprensa nesta quinta-feira (16).
O etanol, um dos produtos mais impactados pela crise, tem sido vendido abaixo de seu valor de custo e, se isso continuar, as usinas serão obrigadas a interromper a safra que mal começou, com efeitos impensáveis para uma cadeia que envolve produtores de cana-de-açúcar, fornecedores de máquinas e insumos, cooperativas e colaboradores em mais de 1.200 cidades brasileiras. São 370 usinas e destilarias, 70 mil fornecedores de cana, num total de 2,3 milhões de empregos diretos e indiretos que estão sob ameaça iminente.
O preço do etanol combustível subiu 7,21% na semana passada. A alta interrompeu um ciclo de cinco quedas seguidas nas usinas paulistas. Apesar do reajuste, o litro do produto, que chegou perto de R$ 2,15 no final de fevereiro, segue abaixo de R$ 1,50, segundo dados divulgados na quinta-feira, 9 de abril, pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – vinculada à Universidade de São Paulo (USP).
O preço do hidratado subiu 7,21%, de R$ 1,3049 para R$ 1,3990. Apesar da alta, o produto acumula retração de 39,1% desde o início de março, depois de subir 3,54% em fevereiro. O preço do anidro – adicionado à gasolina em até 27% – ficou estável, com leve aumento de 0,30%, mas segue abaixo de R$ 1,60. Passou de R$ 1,5823 para R$ 1,5871 e ainda soma 34,07% de baixa em 45 dias, depois de subir 0,98% no mês do carnaval.
“Previmos uma safra de mais de 600 milhões de toneladas que, se não puder ser colhida, trará a destruição do setor, pondo milhões de famílias em todo o Brasil em situação de desespero. O setor já viveu isso quando governos anteriores quase aniquilaram essa cadeia. A diferença agora é que o Governo Federal, com quem temos conversado nas últimas semanas, conhece o problema e demonstra sensibilidade para buscar as soluções. Nosso apelo é para que as medidas sejam implementadas urgentemente, sob pena de não dar mais tempo”, afirma o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi.
Entre as medidas emergenciais que, se adotadas em conjunto, permitirão a sobrevivência do setor estão a instituição de um programa de warrantagem (uso de produto como garantia em empréstimo), a isenção temporária da carga tributária federal aplicada ao etanol hidratado – Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) – e a restituição da competitividade do etanol, também temporariamente, via incremento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
A região Centro-Sul do Brasil concluiu a safra 2019/2020 com 589,90 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas, crescimento de quase 3% sobre as 573,17 milhões de toneladas registradas na temporada 2018/2019. A produção de etanol foi a maior da história do setor sucroenergético: 33,24 bilhões de litros – 9,94 bilhões de litros de anidro e 23,30 bilhões de litros de etanol hidratado. O recorde anterior, observado na última safra, era de 30,95 bilhões de litros. Este volume incorpora a produção de 1,62 bilhão de litros de etanol de milho, valor que também é o maior já registrado. Na safra 2018/2019, essa cifra alcançou 791,43 milhões de litros.
Assinam a carta a Unica, o Fórum Nacional Sucroenergético (FNS), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), o Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado São Paulo (Fequimfar), a Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo (Fetiasp) e a União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida).