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Polícia

Procuradores investigam lobby brasileiro na África para candidatura do Rio-2016

Por Andrei Netto

A campanha liderada por Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), em favor da candidatura do Rio de Janeiro à sede dos Jogos Olímpicos de 2016 foi intensificada na África nos três meses que antecederam o pagamento de propinas a mandatários do Comitê Olímpico Internacional (COI). Documentos da diplomacia brasileira mostram que o dirigente e seus assessores estiveram na Tunísia, no Egito, na República de Guiné, Quênia, Uganda, Gana e Nigéria e que uma reunião foi realizada sem suas presenças no Camarões entre junho e final de agosto de 2009, um mês antes das transferências suspeitas.

As viagens em si não demonstram um crime porque podem ser justificadas como parte da campanha. Mas os procuradores se interessam pelo eventual cruzamento dos nomes de dirigentes com os quais Carlos Arthur Nuzman se reuniu e eventuais transferências que venham a ser identificadas. Para os magistrados, o empresário brasileiro Arthur Soares e o filho de Lamine Diack, presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês), foram utilizados como intermediários por Nuzman e pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, na estratégia de “convencimento” dos dirigentes africanos.

As transferências que sustentam a investigação conjunta do Ministério Público Federal (MPF), do Brasil, e do Ministério Público Financeiro de Paris, da França, foram realizadas em favor de Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, no valor de US$ 1,5 milhão e US$ 500 mil, às vésperas da definição da sede dos Jogos de 2016. A maior das transações foi feita em 29 de setembro de 2009, três dias antes da votação, entre a Matlock Capital Group, empresa com sede em Miami, nos Estados Unidos, e a Pamodzi Consulting, empresa de Papa Diack. Matlock era propriedade de Arthur Soares, também dono do Grupo Facility, empresa que chegou a ser o maior prestador de serviços privados do Estado do Rio de Janeiro, com contratos R$ 3 bilhões na gestão de Sergio Cabral.

Os procuradores dos dois países acreditam que os pagamentos realizados por Arthur Soares foram uma triangulação. A propina seria, segundo suspeitam os magistrados, negociada por Carlos Arthur Nuzman com os dirigentes do COI. Soares faria os pagamentos e, em troca, receberia vantagens indevidas de parte do governo do Rio de Janeiro, maior interessado na eleição.

Para um dos procuradores ouvidos pelo Estado, a relação entre a ofensiva de Carlos Arthur Nuzman e das autoridades brasileiras na África às vésperas das transferências suspeitas são um forte indício da estratégia de compra de votos. “Isso permite esclarecer o pagamento de US$ 2 milhões três dias antes por Arthur Soares ao filho de Lamine Diack”, afirmou. Para os magistrados, Nuzman era o articulador do esquema, enquanto que Sergio Cabral garantiria a origem dos recursos. “Arthur Soares e o filho de Diack foram claramente utilizados como intermediários”.

Documentos diplomáticos revelados há 10 dias pela agência de reportagem brasileira Spotlight, a partir da Lei de Acesso à Informação, indicaram que Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner, diretor de Comunicação e Marketing do COB, realizaram uma turnê por países africanos entre junho e agosto de 2009, semanas antes das transferências financeiras para Papa Diack.

Os encontros aconteceram no Egito, entre 2 e 4 de junho; Tunísia, entre 20 e 22 de julho; na sequência, Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Grinyer estiveram na República de Guiné; no Quênia, entre os dias 28 e 30 de julho; em Uganda, entre 30 de julho e 1.º de agosto; e em Gâmbia, em 27 de agosto, antes da Assembleia Geral da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais da África (ANOCA), na Nigéria, em 26 de agosto.

Representantes diplomáticos brasileiros se encontraram com dirigentes esportivos e autoridades do Camarões para discutir apoio à candidatura do Rio. Na reunião da Nigéria, os dirigentes brasileiros teriam contado com a influência de Lamine Diack para convencer o conjunto dos 54 dirigentes africanos que votam no COI, um apoio determinante para a eleição da cidade brasileira.

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