O dia 20 de setembro de 1913 amanheceu um sábado primaveril. Os pouco mais de 55 mil habitantes da cidade estavam alvoroçados com a notícia de que, à tarde, teriam a oportunidade de ver o voo de um aeroplano, como se chamava então o avião.
A urbe tinha sido fundada há 57 anos e já mostrava sua pujança como maior centro produtor de café do Brasil, atraindo fazendeiros que procuravam a fertilidade de sua terra roxa.
Somente há 7 anos, o genial brasileiro Santos Dumont tinha voado pela primeira vez com o mais pesado do que o ar, em Paris. Suas conquistas foram possíveis graças aos recursos das fazendas de café de seu pai, localizadas aqui em nossa Ribeirão.
Era um grande privilégio para os ribeirão-pretanos testemunharem a pioneira exibição.
O aeroplano, um Breguét francês, foi trazido desmontado pelo trem da Mogiana e remontado nas oficinas da firma Diederichsen, que o prepararam para a grande apresentação.
O destemido piloto era o gaúcho Luiz Bergman, filho de alemães, que viajava pelo país demonstrando a viabilidade da invenção e levando entusiasmo às multidões.
A prefeitura de Ribeirão Preto decidira usar a chácara do Major Quirino, localizada na Vila Tibério – onde posteriormente seria levantado o Estádio do Botafogo -, para ali improvisar uma pista, uma área plana roçada com cuidado.
Exatamente às 15h00 daquele sábado, um automóvel Overland, conversível, traz o aventureiro aviador, portando grandes óculos, dólman verde-oliva, culote e polainas.
Imediatamente se aboleta na geringonça, toda aberta, ordena a dois de seus auxiliares que segurem as pontas da asa e pede que se acione a hélice.
Um estrondo medonho e a emissão de fumaça negra resultam em corre corre da multidão, com medo de que o aeroplano fosse explodir.
À ordem de soltar, a pequena aeronave saltita pela pista de terra, levanta voo, dá uma extensa volta acima dos presentes e aterrissa: acabara de se realizar o primeiro voo sobre Ribeirão. Luiz Bergman é carregado pelo povo.
O aviador ainda decola uma vez mais, dando várias voltas sobre a multidão que aplaude em delírio.
O voo de Bergman dá frutos alguns anos depois, quando, em 1918 é construída uma pista de pouso, de terra e precária, numa área onde hoje é o RibeirãoShoping. Nela pousam alguns aeroplanos, como o Bleriot de João Robba e a aeronave de João Gravê, pioneiros de nossa aviação.
Por ser longe da cidade, decide-se construir uma nova pista, desta vez no final da atual avenida Saudade, logo após o cemitério, pista esta “inaugurada” pelo vermelhinho do Tenente João Neves da Fontoura, que, fugindo das forças getulistas, faz um pouso de emergência na cidade, trazendo apreensão aos moradores.
Em 1933, inicia-se a roçagem e derrubada de árvores ao lado da antiga Metalúrgica, para ali se construir uma pista de terra, porém compactada e que serviria para as aeronaves então existentes. Nascia o aeroporto do Tanquinho, hoje Dr. Luís Leite Lopes, inicialmente utilizado pelos aviões do Correio Aéreo Militar.
Na mesma época, surgia o Aeroclube de Ribeirão Preto, com o intuito de difundir o ensino da aviação aos civis. E, em 1934, a VASP colocava nossa cidade nas rotas aéreas, com voos regulares.