Agora, o acervo está retornando à capital de São Paulo e será acolhido em um local que muitos podem considerar, equivocadamente, inusitado: a Galeria do Rock. Neste local, a obra do artista será recatalogada, mas não poderá ser visitada pelo público. Antonio Souza, o Toninho, síndico do centro comercial, afirma que o espaço sempre abraçou as manifestações culturais renegadas, de alguma forma, pela iniciativa pública e que será uma honra enorme receber Adoniran. Questionado sobre a ligação do sambista com o estilo característico da Galeria do Rock, Toninho resume: ‘‘Ele foi o primeiro punk de São Paulo, ao retratar a linguagem do povo’’.
Maria Helena relembra que seu pai já enxergava e cantava sua ligação com o rock de sua época na música ‘‘Já Fui Uma Brasa’’, lançada em 1974:
‘‘Eu também um dia fui uma brasa
E acendi muita lenha no fogão
E hoje o que é que eu sou?
Quem sabe de mim é meu violão
Mas lembro que o rádio que hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro,
Tocava saudosa maloca
Eu gosto dos meninos destes tal de iê-iê-iê, porque com eles
Canta a voz do povo…
E eu que já fui uma brasa,
Se assoprarem posso acender de novo’’
Destino – O retorno do acervo a São Paulo faz parte de projeto que tem o objetivo de resgatar e tornar conhecida a imagem multimídia da obra do Adoniran Barbosa entre a geração atual de fãs de cultura. Capitaneado pelos herdeiros legais do sambista, Maria Helena e o seu filho (neto do artista) Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa, o projeto tem como próximos passos o lançamento, no ano que vem, de documentário biográfico, dirigido por Pedro Serrano e produzido pela Latina Estudio, cujo acervo fará parte da narrativa.
Ainda em 2018 começará a ser rodado um longa-metragem de ficção inspirado no curta ‘‘Dá Licença de Contar’’, que conta histórias de personagens e de cartões-postais da cidade de São Paulo imortalizados nas composições de Adoniran. O curta, que foi lançado em 2015 e também é dirigido por Serrano, traz o roqueiro Paulo Miklos na figura do sambista e ganhou diversos prêmios em festivais de cinema no país, como ‘‘Melhor Curta-Metragem Júri da Crítica’’ e ‘‘Prêmio Canal Brasil de Curtas’’ no Festival de Cinema de Gramado; ‘‘Prêmio do Público Zinebi’’; ‘‘Mostra Internacional de Cinema de São Paulo’’; e ‘‘Júri Oficial’’ do Grande Prêmio Canal Brasil de Curtas – todos esses ao longo de 2016.
Para os próximos anos é possível que o acervo ganhe uma exposição provisória, a ser recebida por um Museu ou Centro Cultural de São Paulo, até que encontre um lar permanente para visitação. Existe também a possibilidade de o sambista virar tema de escola de samba. Todas as novidades do cantor serão compartilhadas na plataforma oficial www.adoniranbarbosa.com.br, que também apresenta um breve histórico do artista. ‘‘Nascido em Valinhos e de alma paulistana, artista multimídia que foi, Adoniran Barbosa é pop e todas essas homenagens são mais do que merecidas’’, finaliza sua filha.