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Pretos e pardos morrem mais pelo consumo de bebidas alcóolicas  

Dados da pesquisa mais recente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) diz que condições sociais piores agravam o vício que pode acabar em morte  

Adriana Dorazi – especial para o Tribuna
*com informações do Jornal da USP

A população negra e em condições de maior pobreza são as principais vítimas do alcoolismo. Essa é a constatação da a sexta edição da publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2024”, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), divulgado no final de agosto. De acordo com o levantamento, a população negra – pretos e pardos – é a mais impactada pelas mortes atribuídas ao uso de álcool no país. Os dados apontam que, em 2022, esta população apresentou 10,4 mortes por 100 mil habitantes, enquanto que a taxa para pessoas brancas foi de 7,9, ou seja, 30% superior.

No que diz respeito às mulheres, a diferença é mais significativa: entre mulheres brancas a taxa de óbitos é consideravelmente menor (1,4 óbitos) em comparação com mulheres pretas e pardas (2,2 e 3,2 óbitos, respectivamente).

Para a coordenadora do CISA, a socióloga Mariana Thibes, uma das explicações para esse resultado é a desigualdade racial histórica no país, especialmente pelo acesso fala tratamentos de saúde. Além disso, estudos apontam que a discriminação racial é um potencial estressor, que propicia o surgimento de problemas físicos e emocionais, além de comportamentos de risco associados ao consumo de álcool.

No entanto, é importante ressaltar que estes dados não mostram um maior consumo de álcool pela população negra, mas sim que, ao se depararem com este problema, as chances de acesso a tratamentos de saúde de qualidade são menores.

Outros pontos de atenção 

Segundo o professor Erikson Felipe Furtado, as mulheres tendem a ter um perfil metabólico diferente em relação ao álcool: elas são mais vulneráveis à embriaguez com menor consumo de álcool 

Em 2023, as internações totalmente atribuíveis ao álcool (27 internações/100 mil habitantes) foram cerca de metade das observadas em 2010 (57 internações/100 mil habitantes). No entanto, apesar desta diminuição, a prevalência de óbitos entre pessoas internadas em razão do uso de álcool cresceu de 3% para 6%, comparando 2010 e 2023, o que pode estar associado ao aumento do número de internações de pessoas em quadros graves.

A maioria das internações foi de pessoas do sexo masculino, na faixa etária de 35-54 anos. E, com relação à faixa etária de 55 anos e mais, houve um aumento: 22% em 2010; 35% em 2023. As principais causas de internações causadas pelo álcool em 2023 foram a dependência e a doença alcoólica do fígado que, em conjunto, compõem mais da metade das internações desse ano.

De 2010 a 2019, os óbitos ligados ao álcool vinham reduzindo. O ano de 2019 apresentou a menor taxa de mortes em todo o período analisado. Porém, essa tendência é interrompida pela pandemia. A partir de 2020, é possível observar que as mortes passam a aumentar até o ano de 2022. Além disso, os anos de pandemia tiveram as maiores taxas de óbitos por alcoolismo.

Perfil metabólico das mulheres
Segundo o professor Erikson Felipe Furtado, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, especialista em álcool e drogas, “as mulheres tendem a ter um perfil metabólico diferente em relação ao álcool. As enzimas de digestão do álcool que as mulheres apresentam têm uma eficiência menor, algo em torno de 60%, portanto uma quantidade maior de álcool chega até o sangue e no cérebro, logo as mulheres são mais vulneráveis à embriaguez com menor consumo de álcool”.

Porém, o professor ressalta que essas informações são em termos gerais e variações altas podem ocorrer de acordo com cada organismo e com a frequência de consumo, uma vez que o uso constante faz com que o corpo crie resistência maior ao álcool.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse consumo excessivo pode gerar mais de 200 doenças e lesões, como distúrbios mentais, doenças cardíacas, cirrose e hepatite alcoólica, que é potencialmente mais grave nas mulheres por essas questões biológicas.

Mudanças culturais
Furtado afirma que o alcoolismo é um fenômeno multideterminado e questões sociais e culturais têm uma influência potencialmente maior na dependência que questões propriamente biológicas, que têm seu impacto, mas não são determinantes.

Para o professor, um dos pontos que explicam o aumento no alcoolismo feminino é a grande mudança cultural, na última década, que promoveu uma evolução da mulher no campo dos direitos e um aumento da liberdade social e comportamental. Essa liberdade se deu tanto no âmbito profissional quanto no lazer, alterando significativamente o papel social da mulher dentro da sociedade. Ele ainda afirma: “Devido a essas mudanças em práticas e hábitos, o consumo excessivo de álcool, que antes era restrito ao público masculino, mas que para os homens já conhecidamente apresentava riscos de saúde e sociais, agora também acaba atingindo as mulheres”.

O professor Furtado também afirma que, pensando no álcool como um alívio do sofrimento psicológico, eventualmente observa-se no atendimento clínico o consumo se associando ao esforço de mulheres em intenso sofrimento emocional se envolvendo com o maior uso de bebidas alcoólicas, evoluindo em intensidade e frequência, até o ponto de se tornar um problema clínico que exige tratamento. “Logo, é necessário investigar as histórias de mulheres dependentes, pois frequentemente se encontram histórias de abuso”, afirma.

Buscar Ajuda
No Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Ribeirão Preto (CAPS AD), serviço oferecido pelo Ministério da Saúde, existem turmas de apoio exclusivamente femininas, exclusivamente masculinas e mistas, a escolha é por opção do paciente. O CAPS AD oferece atendimento especializado para alcoolistas e farmacodependentes, com serviço ambulatorial e de semi-internação e atendimento médico-psiquiátrico, psicológico, de enfermagem, de assistência social e de terapia ocupacional.

Para o professor Furtado, a falta de informação em relação aos malefícios do álcool é um grande fator que gera o vício entre homens e mulheres. Quando se trata de consumo de álcool na gravidez, essa falta de informação é ainda mais nociva. Também existem outras opções de instituições privadas que oferecem reuniões e retiros, como é o caso do Alcoólicos Anônimos. 

 

 

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