*José Renato Nalini
O campeão da biodiversidade mundial não sabe usar seu patrimônio natural. Ainda desconhece a maior parte daquilo que a Providência ofereceu gratuitamente a um povo que, em sua maioria, priorizou o desmatamento inclemente e desastroso.
Talvez a salvação financeira das futuras gerações esteja na bioeconomia. Pouca gente sabe que já tivemos brasileiros atentos a essa realidade e se propuseram a investir na disseminação do conhecimento a respeito de nossa riquíssima flora.
Um deles foi Luís Pereira Barreto, (1840-1923), que propunha o uso consciente de muita coisa nossa a que nem sempre demos valor. Criticou a importação de plátanos e carvalhos, dizendo que tínhamos exemplares muito mais valiosos, como quaresmeira, ipê e toda a fecunda família das leguminosas. Em lugar do fumo, indicava a folha do cafeeiro. Foi o precursor do guaraná.
Os indígenas – os verdadeiros donos da terra – têm cultura ancestral de uso inteligente de substâncias liberadas de química e de substâncias que, embora desenvolvidas para o bem, podem causar mal à saúde do homem e da natureza. Caso dos agrotóxicos, que matam as abelhas e acabam não só com o mel, mas com a polinização.
Já passou do momento de se aproximar da sabedoria nativa, de substituir tudo aquilo que depende de pesados royalties e que enriquece a indústria farmacêutica estrangeira ou apátrida, para focar aquilo que é abundante em nossos biomas.
Incentivar o estudo da biologia tupiniquim, aliada à mais moderna economia, que não é aquela devastadora de almas, porém propulsora de vocações destinadas a tornar o Brasil que temos naquela nação com que sonhamos e que já foi delineada pelo constituinte de 1988: a pátria justa, fraterna e solidária para com todos.
A iniciativa privada precisa acordar para essa oportunidade e tornar os jovens interessados em pesquisar coisas nossas. Prestigiar o que é nosso, autenticamente nosso. Fazer com que nações consideradas mais desenvolvidas se acostumem a consumir o que é nosso. Com certeza, tudo mais autêntico, mais genuíno e mais puro do que os produtos industriais, camuflados com sólida publicidade, mas com as armadilhas que só o tempo evidencia que abrigam em suas ilegíveis fórmulas.