Em depoimentos à Polícia Federal, três presos por suspeita de hackear autoridades, junto com Walter Delgatti Neto, de 30 anos, apresentaram versões nas quais “Vermelho” é tratado como líder do grupo. O motorista Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, afirmou à PF que emprestou seu nome para o amigo Delgatti Neto alugar um imóvel em Ribeirão Preto em 2018. As contas do imóvel ficaram no nome de Marques. Ele disse que não recebeu pagamentos ou vantagens para emprestar o nome. O Edifício Premium fica na avenida Leão XIII, no bairro da Ribeirânia, área nobre na Zona Leste da cidade.
O DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, disse em seu depoimento que também chegou a ser hackeado por Delgatti Neto em fevereiro. O próprio hacker teria confirmado a ação e, meses depois, revelado a Gustavo que tinha acessado a conta do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, no Telegram. Ele disse ter registros da troca de mensagens. Ele justificou sua movimentação financeira com negociações em criptomoedas. O DJ afirmou que Delgatti Neto é “simpatizante do PT” e que pretendia vender as mensagens acessadas para o partido. Suelen Priscila de Oliveira, de 25 anos, também presa, afirmou que desconhece as operações financeiras do namorado Gustavo, mas confirmou que ele fazia movimentações em seu nome.
A lista de “Vermelho”
O presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Justiça Sérgio Moro, procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e Davi Alcolumbre (DEM), estão na lista dos hackeados por alvos da Operação Spoofing, que prendeu quatro por invasões de celulares de autoridades. A Polícia Federal estima, em uma análise preliminar nos celulares dos investigados, que são mais de mil vítimas. Somente “Vermelho” afirmou em depoimento que iniciou suas invasões por um promotor de sua cidade, Araraquara.
Marcel Zanin Bombardi foi responsável pela denúncia contra “Vermelho”, em 2017, por tráfico de drogas e falsificação de documentos públicos, na ocasião em que foi preso com remédios e uma carteirinha falsa da Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A partir da invasão do celular do promotor de Justiça, o hacker diz que obteve contatos de procuradores, já que acessou um grupo do Ministério Público Federal.
Ele cita que chegou a invadir os celulares de José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República a partir do grupo. Em junho, o Cavalcanti afirmou ter tido uma suposta conversa com um hacker que se passava por Marcelo Weitzel Rabello de Souza, membro do Conselho Nacional do Ministério Público.
Por meio de um procurador da República do qual não se lembra, ele ainda afirma que acessou o celular de Kim Kataguiri (DEM), deputado federal. Na agenda do parlamentar, Vermelho cita que obteve acesso ao celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. “Vermelho” também diz ter invadido o celular do ex-procurador-geral Rodrigo Janot a partir da agenda do ministro.
Por meio do celular dele, também afirma ter invadido procuradores da Operação Lava Jato, como Deltan Dallagnol, Orlando Martello Júnior e Januário Paludo. Em sua suposta rota até o alegado fornecimento ao site The Intercept, ele afirma ter invadido também os celulares dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Na agenda da petista, diz ter encontrado o número de Manuela D’Ávila, ex-deputada pelo PC do B. Ele diz que a ex-parlamentar teria intermediado o contato com o editor do The Intercept Glenn Greenwald. Ela admite que recebeu o contato de um hacker e o repassou ao jornalista.Os nomes de vítimas de hackeamentos, no entanto, vão muito além do relatado por “Vermelho”.
Somente no mandado de prisão contra “Vermelho” e outros três suspeitos na Spoofing, consta que já eram investigadas as invasões de celulares de do desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, ao juiz Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio e aos delegados da PF Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas – que era lotado em Ribeirão Preto e participou das investigações da Operação Sevandija.
Em uma análise preliminar sobre os celulares de investigados, a Polícia Federal afirma ter encontrado mil vítimas. Entre elas, estariam o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Já foi comunicado de que foi vítima dos ataques o presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha. Entre os hackeados, estão ainda o ministro da Economia, Paulo Guedes; e a líder do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). O presidente Jair Bolsonaro também foi alvo do ataque hacker, segundo o Ministério da Justiça.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou ter sido alvo de uma tentativa frustrada de hackeamento. Segundo dados da Procuradoria-Geral da República, 25 membros do Ministério Público Federal também foram hackeados.