O ano de 2020 ficará marcado por um aumento bastante expressivo do número de apreensões de maconha sintética em presídios do interior paulista. Ao todo, de janeiro a setembro, foram 48 ocorrências na região noroeste, um crescimento de 2.300% em comparação ao mesmo período de 2019, quando houve apenas dois flagrantes do entorpecente conhecido como k4, ou 46 a mais.
Uma das justificativas para a quantidade elevada de casos registrados em 2020 é que se trata de uma droga nova e, por ser mais fácil de ocultá-la em objetos encaminhados por correspondências, passou a ser enviada às unidades prisionais por familiares de presos na tentativa de burlar a vigilância dos agentes penitenciários.
Na região de Ribeirão Preto, foram constatadas três apreensões no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis, uma na Penitenciária Masculina de Ribeirão Preto e uma na Penitenciária Masculina de Serra Azul. As cinco ocorrências respondem por 10,4% do total.
O Centro de Progressão Penitenciária (CPP) II “Dr. Eduardo de Oliveira Vianna” de Bauru lidera a estatística ao registrar 32 apreensões de maconha sintética, entre janeiro e setembro deste ano. “Devido ao período de pandemia, os presos não estão recebendo visitas presenciais e, com isso, aumentou muito o número de encomendas pelos Correios”, diz o diretor Fernando Henrique de Melo Santana.
“Recentemente, nos deparamos com uma surpresa nada agradável: a reinvenção da maconha. Agora, na forma artificial e potencializada, chamada de K4”, detalha Santana. Ele explica que a nova droga é formada por substâncias que simulam ou têm uma reação muito parecida com o THC, que é o princípio ativo da maconha, porém, muito mais potente.
“É um material sintético com aspecto e textura de uma folha de papel e deixa o usuário muito agitado e agressivo”, relata o diretor. “E os criminosos tentam de tudo para ter acesso a esse entorpecente, até mesmo usar os próprios familiares como ‘pontes’, com o objetivo de burlar a segurança do presídio”, reitera.
Criatividade
Santana aponta que presos e seus familiares não poupam a criatividade na hora de camuflar a droga sintética. “Já encontramos a K4 dentro de filtro de cigarro, tubo de creme dental, sola de tênis e chinelo, fundo falso de margarina, costura de bermuda e calça e até nas fatias de um pão de forma”, elenca.
Para impedir a entrada de ilícitos em presídios, o diretor do CPP II de Bauru destaca que as unidades geridas pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) contam com escâner corporal, aparelhos de Raio-X de menor e maior porte, além de detectores de metais de alta sensibilidade.
Entretanto, a perícia dos agentes faz toda diferença para o êxito dos flagrantes, banca Santana. “A atenção do servidor nunca foi tão necessária e tem sido responsável por 100% das apreensões, que aumentaram graças à perspicácia e o tirocínio dos funcionários, que possuem um olhar cirúrgico e minucioso”, define Santana.
Laudos
Em agosto deste ano, a Polícia Científica começou a emitir laudos para confirmar o tráfico de drogas sintéticas, incluindo a k4, no Estado de São Paulo. Antes disso, mesmo com a apreensão da droga, ninguém poderia ser preso porque os laboratórios policiais não tinham como comprovar cientificamente que a k4 é entorpecente.
Entretanto, com o novo equipamento utilizado pelos peritos, a Justiça passou a processar o fornecedor e indiciá-lo por tráfico de drogas. “Todo o material apreendido é encaminhado para autoridade policial realizar o laudo. Além disso, é instaurado procedimento administrativo em desfavor do sentenciado”, finaliza Santana.