Historicamente a saúde está relacionada entre as principais preocupações da população brasileira e o SUS (maior sistema de saúde pública do planeta), cotidianamente luta para superar suas deficiências, entre as quais a falta de financiamento e número reduzido de profissionais e leitos, o que compromete o acesso.
Ribeirão Preto tem vocação para a área de saúde e, além de uma ampla rede instalada, é centro de excelência na formação dos mais variados níveis e carreiras. Esta tradição foi consolidada com a construção do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, popularmente chamado de HC.
Quem teve a oportunidade de circular pelos estacionamentos do Campus USP, já observou a quantidade de ônibus, vans e carros com placas de incontáveis municípios de São Paulo, Minas Gerais e de diversas unidades da federação. Moradores locais reclamam que não conseguem acesso, pois a maioria das vagas é destinada para pacientes de fora, não entendem a vocação de unidade de alta complexidade que deve acolher os casos que não são ofertados em cidades menores.
A quantidade de pacientes oriundos de outras localidades é tão grande que no início de 2013 foi iniciada uma campanha para construção de uma unidade do restaurante popular “Bom Prato” na área do hospital. Entre promessas eleitorais, projetos e anúncios, já se foram seis anos e nada.
Apesar de receber críticas, o hospital é amado e respeitado, sendo que, entre as pessoas mais simples algumas frases ficaram famosas como: “Se ninguém resolve, manda para o HC” ou “Lá demora muito, mas eles examinam da cabeça aos pés”. A fama foi alcançada pelos servidores da linha de frente da assistência e pelos que estão na retaguarda em pesquisa, diagnóstico e desenvolvimento de terapias inovadoras.
Gigante, com quase seis mil funcionários, o Hospital das Clínicas é uma verdadeira cidade (no Brasil 1.253 municípios possuem menos de 5.000 habitantes) e segundo dados oficiais, somente no primeiro semestre do ano passado realizou mais de 1,5 milhão de procedimentos. Foram 16 mil cirurgias, 4,7 mil transplantes e 19,7 mil internações. Números expressivos, que poderiam ser maiores se existisse vontade política. Prova é a denúncia apresentada por servidores da instituição alertando sobre a eminência da perda de até cem leitos e consequentemente a redução na quantidade de cirurgias, tudo por falta de pessoal. Oficialmente a demanda atual é de 300 profissionais, notadamente nas áreas de enfermagem e anestesia, mas é sabido que nos últimos cinco anos ocorreu a redução em cerca de dois mil profissionais.
Se de um lado as demissões e aposentadorias não estão sendo repostas, de outro a necessidade de atendimento somente aumenta, especialmente por cirurgias. O procedimento cirúrgico contempla etapas: consultas, exames, pré-operatório, o procedimento em si e o pós-operatório, envolvendo uma equipe multidisciplinar. Quando faltam alguns elos, a engrenagem não funciona e na saúde, um funcionamento inadequado significa dor, sofrimento, sequelas e até mortes.
Acostumada com as falsas promessas, a população parece passiva, mas é necessário fazer algo, mobilizar-se, cobrar os responsáveis, enfim, socorrer o gigante adoecido, para que retome com vigor sua missão de desenvolver e praticar assistência, ensino e pesquisa em saúde, através da busca permanente da excelência, tudo pela melhoria da qualidade de vida da nossa gente.