Por Hugo Luque
O esporte é um importante catalisador de bem-estar em todas as idades. Na infância, porém, é imprescindível manter os pequenos sempre ativos. Os benefícios vão além de melhorar a forma física e a saúde, e também “tonificam” as habilidades psicológicas, motoras e sociais, sobretudo quando a prática é encorajada desde muito cedo.
A psicóloga Amanda de Morais Bolela afirma que colocar os filhos em atividades físicas é um ato que pode não apenas afetar o presente, mas todo o futuro de uma pessoa. Afinal, seja na quadra, no campo, no tatame ou em qualquer outro lugar, a criança aprende a trabalhar em equipe, a respeitar as diferenças e reduz os riscos de ansiedade e depressão.
“Quando a criança pratica uma atividade física, ela dorme melhor, se desenvolve melhor e cresce melhor. Melhora muito também a autoestima e a autoconfiança dessa criança”, conta Amanda.
A psicóloga ainda destaca a diferença no processo de crescimento de alguém que pratica diversas atividades em relação àqueles que fazem poucas e, principalmente, em comparação aos sedentários. Em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três crianças entre cinco e nove anos tinha excesso de peso, e 78% das crianças brasileiras se mexiam menos do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), realidade que foi acentuada pela pandemia.
“Uma criança mais ativa tem muito mais chances de se desenvolver melhor do que outras, porque ela acaba melhorando todos os outros recursos neurológicos, físicos e psicológicos dentro do organismo. Ela poderá se desenvolver melhor nas atividades, ser mais proativa, conseguirá ativar mais sua resolução de problemas e, com certeza, poderá desempenhar bem melhor nas atividades do dia a dia do que outras crianças.”
Embora seja da natureza maternal e paternal ter cautela, o esporte não tem necessariamente idade. Apesar de o mais comum ser a iniciação esportiva aos cinco ou seis anos de idade, é possível encontrar diversas atividades para os bebês, como a natação.
“Desde bebê, já pode incluir na atividade física, porque vai ajudar ainda mais o desenvolvimento, mesmo nessa faixa etária. Começou a engatinhar, já pode começar a ir para a natação”, acrescenta Amanda.
O futebol e a vitória na derrota
Não é segredo para ninguém que o esporte favorito do brasileiro é o futebol e, com isso, grandes expectativas são depositadas sobre filhos e filhas. Mesmo assim, o ideal é que a criança tenha a oportunidade de explorar atividades coletivas e individuais para se descobrir.
A recomendação mais frequente é colocar os pequenos coordenados em modalidades de grupo, como futebol, vôlei e basquete. Já os mais distraídos podem evoluir na natação ou no atletismo. Os disciplinados podem rumar para a ginástica, o balé e as artes marciais. Esse planejamento faz sentido a partir das individualidades de cada pessoa, mas não é a única opção, como explica Julier Cordeiro, técnico de futebol na Escola do Flamengo, em Ribeirão Preto.
“O ideal é que pratiquem mais de um esporte simultaneamente. Crianças têm muita energia e disposição, e vale a pena deixá-las praticarem modalidades diferentes e ver qual elas se adaptam mais fácil e criam mais interesse.”
No futebol, especificamente, os benefícios vão dos mais esperados, como a socialização e o desenvolvimento da coordenação motora, até alguns que muitos pais sequer pensam, como o aprendizado com a derrota. Por melhor que a criança seja no esporte, quanto mais jogos ela disputar, maior o número de derrotas que ela terá de enfrentar.
“O que o futebol ensina de maneira diferente dos outros [esportes] é sobre perder. No futebol, você pode até ser melhor, criar mais chances, jogar bem o jogo inteiro e, ainda assim, perder. É como na vida”, diz Cordeiro, que revela os curiosos bastidores de um revés numa equipe formada por jogadores mirins.
“A derrota, a temida derrota. Eu mesmo tenho alunos que reagem de maneiras diferentes: um chora à beira do gramado, um fica chateado, outro briga com todos os companheiros e tem um que simplesmente dá risada. Conforme passa o tempo, todos acabam lidando melhor com uma derrota. Algumas doem mais, outras menos, depende da situação também.”
Já na visão de Amanda, além da importante experiência de viver uma derrota, o futebol traz consigo algumas outras características especiais. Para a psicóloga, quem tira proveito do que é oferecido pelo esporte mais popular do mundo cresce como um adulto mais respeitoso.
“O futebol traz uma questão de competitividade. É muito importante desenvolver isso nas crianças, o saber perder e o saber ganhar. Ensina a levar as coisas mais para o fair play, a entender que nem sempre vamos ganhar, que precisamos respeitar nossa equipe, nossos adversários, as pessoas envolvidas. Traz muitos outros aprendizados além dos benefícios físicos e psicológicos.”
Pais atuam na defesa
Para pessoas entre cinco e 17 anos, a OMS recomenda um mínimo diário de 60 minutos de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa. Quanto mais, melhor, mas sem exagerar.
O mesmo vale para a questão do incentivo. Todos os pais gostam que os filhos se saiam bem em tudo o que fazem e que sejam felizes, mas isso também pode trazer uma pressão para os pequenos, que ainda não têm tanto controle sobre situações de cobrança.
Julier Cordeiro comenta que, hoje, há um exagero por parte dos pais. Em suas observações diárias na escola, o técnico compara a demanda dos responsáveis com as exigências impostas a atletas da categoria sub-20. Por isso, seu recado para as crianças é que busquem, sobretudo, a diversão na hora do esporte.
“Tem de saber ponderar e passar para as crianças que, assim como na vida, as derrotas chegam e, com elas, vamos aprender. É a idade de aprender muita coisa. Medalhas e troféus ficam pendurados, mas o aprendizado fica dentro de nós. Já para os pais, é pedir paciência com seus filhos, porque eles estão em constante evolução, são muitas coisas pra assimilar no dia a dia. Quando a gente vê uma criança fazer algo novo no esporte, nos enche de orgulho.”