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‘Pra não dizer que não falei das flores’

A música “Pra não dizer que não falei das flores” foi escrita e cantada por Geraldo Vandré em 1968, conquistando o segundo lugar no Festival Interna­cional da Canção daquele ano. A música se tornou um dos maiores hinos da resistência ao sistema ditatorial militar que vigorava na época. A composição foi censurada pelo regime e Vandré foi perseguido pela polícia militar, tendo que fugir do país e optar pelo exílio para evitar represálias.

A música era um protesto e uma chamada à militância pela libertação da ditadura e todas as camadas deveriam se sentir inseridas nesse convite. Segundo Patrícia Padilha, o conformismo, a tecnologia, e várias outras novi­dades que surgiram após 1968, impedem que estudantes despertem em si os mesmos desejos de mudança.

Muitos jovens não conseguem imaginar que existiu um tempo em que não havia internet, raves, DVD, CD, TV em cores e muito menos TV a cabo, shopping centers, big brother, MSN, orkut, facebook entre outras coisas. Os jovens são movidos a saciar seus desejos e vontades muitas vezes supérfluas e estão mais preocupados com o próprio bem-estar, muitos desperdiçam o di­reito de voto, que infelizmente só foi conquistado após ditadura, direito esse que tanto foi motivo de luta dos jovens que almejavam garantir sua opinião e participar da história do próprio país.

A música de Geraldo Vandré é clara, nos conscientiza e informa sobre o ano de 1968 e os demais que se seguiram de ditadura militar, nos faz repensar sobre atitudes e ideais, sobre o velho e o novo, e de como o ditado “um por todos, e todos contra um” foi tão intenso durante aqueles anos, os estudantes podem não ter derrubado a ditadura, mas foram vistos e foram parte importante e indispensável da história.

É decepcionante saber de que nos tempos atuais, aceitamos o que nos é imposto, fazemos parte de uma massa que cada vez mais parece alienada e movida às tecnologias. Não conseguimos nos separar de bens materiais e tampouco lutar contra isso, nos conformamos e ficamos aprisionados, o ano de 1968 ficou apenas como exemplo de uma geração de jovens com ideais, al­guns alienados sim, mas a maioria com esperança de um país melhor e capaz de lutar pela liberdade e por aquilo que lhes eram imposto.

Mesmo depois de 50 anos essa composição ainda pode nos expor a im­portância da luta pelos nossos objetivos, desejos e ideais, mas principalmente de como o conhecimento dos próprios direitos e deveres é imprescindível para que se construa uma sociedade melhor e democrática, além de ser o nosso principal dever como cidadão.

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas campos construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Há soldados armados amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

Salve Geraldo Vandré, por sua coragem de ousar enfrentar a ditadura militar, fazendo um hino à resistência, que é lembrado e cantado nas mani­festações atuais, e será por todas as gerações.

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