Em Ribeirão Preto, 11 postos de combustíveis encerraram suas atividades em 2019, principalmente por causa das dificuldades com as margens realizadas nas vendas de combustíveis e a redução de volume de vendas, devido à crise econômica. É o que informa Fernando Roca, membro do Núcleo Postos Ribeirão Preto, grupo integrante do Programa Empreender, da ACIRP – Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto, e reúne 85 postos de combustíveis, o equivalente a aproximadamente 50% do mercado local.
O vice-presidente da Brascombustíveis – Associaçao Brasileira de Postos de Combustíveis, Renê Abbad, proprietário de posto, diz que em Ribeirão Preto há 193 postos de combustíveis e que 24 foram fechados por questões diversas nos últimos três anos. “A maioria por inviabilização do ponto nos negócios”, diz. “Dos 193 postos, uns 90 a 100 estão à venda e alguns prestes a fechar”, completa.
“Há três anos o mercado enfrenta dificuldade, margem de lucro baixa. Temos R$ 0,20 de margem no etanol, que mais vende. Fica difícil, a conta não fecha”, acrescenta Abbad.
Segundo o empresário, os proprietários precisam de R$ 0,47 de margem de lucro por litro de combustível (na média de litro juntando os três produtos: etanol, gasolina e óleo diesel) para pagar os custos. “Não estamos tendo R$ 0,25. Hoje chega a R$ 0,20”, exemplifica.
Concorrência desleal
Fernando Roca aponta outras dificuldades do setor: concorrência desleal, alta tributação e custos elevados. “(Isso) além das práticas estabelecidas por distribuidoras que repassam aos postos revendedores altas nos preços de combustíveis, às vezes, inexplicáveis”, diz.
Segundo ele, a concorrência desleal leva, muitas vezes, o posto revendedor idôneo a praticar preços com margens que não sustentam o negócio e levam o posto a encerrar rapidamente sua operação. “O preço na bomba deve comtemplar seus custos, impostos, custo operacional e o pagamento de despesas. O aspecto segurança é outro item muito importante que onera o preço final do combustível. Um posto de combustível é uma pequena/média empresa que segue regras de uma multinacional em aspectos de segurança. Isso tem um custo enorme no final”.
Para ele, uma estabilização do mercado só ocorrerá quando as regras e as leis aplicadas ao mercado forem seguidas igualmente por todos os estabelecimentos. “Isso, sem dúvida, fará com que a concorrência seja leal e justa, proporcionando ao proprietário honesto e que cumpre com seus compromissos, condições de igualdade para concorrer neste mercado”, aponta.
Negócio insustentável
Abbad indica o mesmo caminho, apontando que os custos subiram muito nos últimos anos e as margens caíram. “Um negócio ruim, insustentável”. Os proprietários, segundo ele, foram perdendo ao longo do tempo, e principalmente nos últimos três anos, margem, capital de giro e estoque. “Chegou um ponto que inviabilizou o negócio”. Para ele, o ano passado foi o pior de todos. “Em 2018 a depreciação do fundo do comércio do ponto foi muito forte. Isso acontece porque a concorrência é muito grande e a cidade tem muitos postos. A demanda não cresce com o número de postos que abriram”, complementa.
Bandeirados x individuais
Além das questões elencadas, há outro ponto que esquenta o comércio entre postos de combustíveis: os bandeirados ou de redes contra os individuais.
Nesse processo de crise, Abbad diz que os postos de rede conseguem diluir mais o custo fixo e tem mais fôlego que os individuais.
Roca explica, porém, que os postos bandeirados pagam caro para manterem a marca e isso muitas vezes diminui a sua competitividade, “pois este custo precisa ser repassado ao preço final do combustível”.
“O que notamos em postos de grandes distribuidoras é o trabalho sendo realizado para criação de outros negócios para agregar valor ao ponto comercial como, por exemplo, farmácias, casas de carnes e churrasco, casas lotéricas, etc. Novos negócios ajudam a diluir as despesas e manter a empresa viva”, salienta Roca.
Abbad concorda. “A maioria hoje vive da loja de conveniência. Negócio de venda de combustível está muito difícil. Mas isso não é um fator local. É uma questão nacional, o estado de São Paulo está muito forte nessa situação. Um exemplo, São Simão, tinha cinco postos, fecharam três”.
Projeção para 2020
Para o representante da Brascombustíveis, a projeção para 2020 não é das melhores. “A gente não vê condições de mudança nesse quadro, pelo contrário, a tendência é manter essa situação”, estima.
Para Roca, o próximo ano é de incertezas. “O cenário econômico nacional começou a mostrar sinais positivo de recuperação da economia. Se o mercado de combustíveis enfrentar as dificuldades do setor com ajuda dos órgãos reguladores, o fechamento de outros revendedores pode diminuir. Tudo vai depender da estabilidade econômica e da flexibilização das taxas, dos impostos e da distribuição de combustíveis aos postos revendedores. Um bom exemplo seria a liberação do posto revendedor para comprar etanol direto das usinas produtoras”, finaliza.