Por traz de cada placa “vende-se”, “aluga-se” e das portas comerciais fechadas existem histórias dramáticas: de desemprego, de decepção e de sonhos frustrados, de empresários e de suas famílias empenhadas por ideias de plenas realizações que, de repente, se esvaziaram ou, simplesmente, foram adiadas. É preciso acreditar.
Os estragos da pandemia impressionam. Além dos parentes e amigos que foram sacrificados – e a saudade eterna, há fatos que merecem considerá-los.
Por exemplo, São Paulo (capital) perdeu milhares de restaurantes, informam segundo os arquivos da Prefeitura. Por aqui também houve perdas, como as dos tradicionais classe A, das avenidas Nove de Julho e João Fiúsa, do Rancho da Picanha na avenida Presidente Vargas e outros. E assim em todos os seguimentos econômicos.
Nota-se empenho e estratégias inteligentes de quem administra para atenuar os efeitos do “fecha e abre” do comércio, com redução das atividades, da clientela e da rentabilidade. Para ter sustentabilidade, diminuir os custos operacionais é fundamental.
A criatividade torna-se essencial para manter o negócio, bem como agir com rapidez e desenvoltura (coragem). Assim acaba de ocorrer no Stream Palace Hotel, há 50 anos em atividades nesta cidade. Depois de hospedar governantes, autoridades nacionais e internacionais, principais artistas como Roberto Carlos e Caetano Veloso, deixa de oferecer pernoites, se transforma num flat para moradia de, no mínimo, três meses. Detalhe, a empresa é dirigida por uma mulher; elas são diferentes no que valorizam e tratam as pessoas.
Disso tudo uma lembrança inevitável: nosso parque hoteleiro já anda se assemelhando ao seu pior momento, entre 1960 e 70. Naquela época tínhamos o Hotel Brasil (na avenida Jerônimo Gonçalves) já em fase de fechamento, o que aconteceu; o Hotel Aurora (na mesma avenida), idem; o Hotel Palace (na Praça XV) anunciava encerrar as atividades (consumadas anos depois); o Grande Hotel (no Edifício Diedericksen) em transição, se encolhia, quase desapareceu; o Umuarama Hotel (na rua São Sebastião) era o melhor de todos, mas dizia as suas dificuldades; vendido, hoje ainda se mantém com o nome MontReale; o Umuarama Recreio (da família Miloná, no bairro Monte Alegre) fechou as portas e nunca mais as abriu. Outros surgiram, com cinco estrelas só um; a maioria de três estrelas. Mesmo assim socorriam os eventos regionais (pós 2000).
Pioramos. Será que voltaremos aos tempos em que as pessoas vinham a Ribeirão e se hospedavam nas casas dos parentes ou amigos? Falei, várias vezes, com Chico Xavier abrigado na casa do líder espírita José Papa (na rua Visconde do Rio Branco); governador Laudo Natel, hóspede na fazenda Iracema, do banqueiro Louzada (perto de Sertãozinho); religiosos eram hospedados pelas Proenças (na casa da avenida Saudade, hoje em ruinas); Pelé era acolhido na casa do empresário Quico Calil (de A Modelar); governador Altino Arantes, recebido por Dª Sinhá e Cel. Quito Junqueira na mansão da Praça XV (hoje biblioteca); a médica Marico Sato também na Dª Sinhá; fazendeiros, nos palacetes do Paschoal Incecchi (rua Duque de Caxias, hoje Banco Itaú) e no do Jorge Lobato (rua Álvares Cabral, hoje restaurante); artistas, na casa da “socialite” Regina Pessoa; Elis Regina, na casa dos industriais Penha; e assim foi.
Regredimos! E agora?