Luiz Paulo Tupynambá *
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Por una cabeza de unnoblepotrillo / Que, justo en laraya, afloja al llegar / Y que, al regresar, parece decir / No olvidés, hermano, vos sabés, no hay que jugar”. (Gardel – Le Pera)
A cobertura da imprensa costuma carregar as tintas em clichês e obviedades para realçar fatos e falsidades sempre recorrentes no cotidiano das campanhas eleitorais. Pesquisas eleitorais são “fotografias da verdade no momento em que foram feitas”; “tudo pode mudar de uma hora para outra”; “não se pode afirmar, neste momento que a tendência que aqui aparece indica uma tendência irreversível”; “apesar da vantagem mostrada, não seria correto afirmar que fulano já está eleito”. As pesquisas são mais esperadas que o dia das eleições e têm o poder de “elegerem” os candidatos dos partidos para os cargos majoritários com anos de antecedência. Cada ponto percentual conseguido por um político em pesquisa feita antes de campanhas eleitorais pode valer “grana preta” ou apoio irrecusável em negociação de coligações. É o capital eleitoral mais precioso de um político com grandes aspirações. Cultivar amizades nos meios jornalísticos e, atualmente, boníssimas relações com “influencers” pode gerar o diferencial entre ser candidato à Presidência da República ou aspirante ao mero cargo de deputado estadual com santinho contado e tempo de TV reduzido a menos segundos de aparição do que matéria sobre “cachorro sumido”. Estar bem na fita e sempre em evidência é o “be-a-bá” da boa performance em pesquisa pré-eleitoral.
Conseguida a vaga sonhada e costuradas as alianças corretas para o dinheiro necessário, além do tempo de TV e Rádio suficientes, está na hora de montar a equipe de campanha publicitária. “Que está cada vez mais cara depois que inventaram as tais mídias sociais”, chora a politicada como se o dinheiro saísse do bolso deles e não da patuleia geral da nação através do financiamento público das campanhas. Depois de tudo juntado e organizado, é hora de botar a banda na rua.
Porém, aí chega a Deusa Pesquisa.
Participei de uma campanha eleitoral que tinha como um dos seus chefes um jornalista conhecido, que não podia ouvir falar a palavra “pesquisa” dita por alguém no escritório eleitoral, que disparava para o banheiro tomado por urgência incontrolável. Em outra, nas Minas Gerais, proibiram a circulação de qualquer pesquisa dentro do escritório da campanha, “para não desmotivar a tropa”. Bastava chegar o dia em que divulgavam alguma pesquisa para todo mundo “vazar na braquiária” e se encontrar no Bar do Seo Mário, para comer uma tilápia frita com cerveja gelada e pinguinha Salinas e conversar sobre… a pesquisa.
As equipes de campanha vivem esperando “sair a pesquisa”. Tem especialistas para analisar cada uma delas, tentarem providências para tapar buracos negros de votos em bairros e comunidades diversos, melhorar o discurso para grupos específicos da população, mostrar simpatia para os pobres dos pets e também, se sobrar tempo e dinheiro, um pouco de empatia pelos pobres humanos também.
Roteiristas são demitidos, criadores são execrados e têm seus iphones excomungados e até a tiazinha do café às vezes acaba escutando se a pesquisa não sair favorável ao candidato. Só depois desse “sacode geral” é que a campanha volta a caminhar normalmente. Até a próxima pesquisa…
Tratadas como as notícias mais importantes do processo eleitoral depois da própria eleição, seu interesse jornalístico só é superado por fato notável, como morte de candidato favorito ou traição de correligionário histórico, ou até mesmo cônjuge (o ex-prefeito malufista Celso Pitta que o diga).
Se nada é fato provado e ocorrido quando se trata de uma pesquisa eleitoral, como eu disse no primeiro parágrafo, então não deveria ser fato jornalístico, notícia. Certo? Não, pesquisa empolga o público, atrai leitores e audiência, isso é um fato irrefutável. Têm total relevância para o processo eleitoral. Veja o caso da capital do estado de São Paulo. Os três principais candidatos estão numa disputa “cabeza a cabeza” como no tango de Gardel e Alfredo Le Pera. Resta saber qual deles será o “potrillo” que refuga no final da corrida e perde por uma cabeça uma corrida já ganha.
Ricardo Nunes usa o gigantesco tempo de TV para “tirar o tapume” da frente das obras, mostrando o que está fazendo. Era um ilustre desconhecido para mais de um quarto dos paulistanos antes do início da propaganda eleitoral. Se souber usar bem esse tempo, estará no segundo turno com certeza. Além disso, o argumento do voto útil e o apoio do governador Tarcísio parecem estar funcionando junto à população. O “fura-fila” Pablo Marçal tem sugado os eleitores bolsonaristas de Ricardo Nunes, coisa que desagrada e muito o ex-presidente, que vê a cria Tarcísio ser cacife maior do que ele no apoio a Nunes e, ainda, o seu “nefilim” Pablo Marçal afrontá-lo antecipando uma disputa que promete ser sangrenta pela candidatura presidencial da direita em 2026.
Num primeiro olhar, as pesquisas eleitorais podem não ser exatamente um fato jornalístico. Mas qual jornalista não gosta de presumir, desconfiar? Faz parte da profissão e da própria essência de ser um humano. Quem nunca especulou sobre isso ou aquilo que atire a primeira tabela, opa, pedra.
Como diria um bom mineiro: ”num tem trem mió de fazê que ispiculá”.
É uma verdade aqui, na Cochinchina e, se algum dia tiver eleição por lá, na Lua também.
* Jornalista e fotógrafo de rua