Múltiplas são as análises feitas sobre o posicionamento político das classes marginalizadas no Brasil. Despossuídas de considerações antropológicas e sociológicas, temos uma medite rasa, despossuída de lastros e de sustentação.
Propositalmente, o poder político no Brasil sempre foi dado às classes dominadoras, desde nosso descobrimento. A nossa gênese nasce da luta de classe no princípio escravocrata, quando a empresa Brasil tinha o único desígnio imposto, ou seja, gerar lucro para a metrópole e seus sócios.
O artifício utilizado foi o perverso processo de desculturação de nossas matrizes que formam o povo brasileiro, sejam elas tupi, lusitana, sejam africanas. Depauperado, no plano cultural com relação aos seus ancestrais, o brasileiro comum se constituiu como um ser tábua rasa e lhe foi negado o processo de conhecer a importância do pensamento ou a ação política.
Sofremos, dentre nosso desenvolvimento, um austero método de renunciação ao interesse das questões públicas. Não fomos forjados para sermos donos do nosso destino; afinal, a política, a fortuna do Brasil, sempre foram entregues a uma classe social senhoril, cuja chibata foi útil e necessária para a manutenção do poder.
Caracterizamo-nos pelo conformismo intrínseco. A personalidade de nosso povo, que apreendeu, com raros questionamentos sufocados e massacrados, que a existência miserável despossuída de direitos elementares é uma condição imposta pela natureza, e que nada pode ser feita para transformá-la.
Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim, poetizou o genial Dorival Caymmi.
A clássica definição cunhada na Revolução Francesa sobre direita e esquerda, a oposição do Jacobinismo contra os Girondinos, a luta pela justiça social, ou a liberdade individual, as visões oponentes de progressistas e neoliberais, ambientalistas e capitalistas, teocratas e libertários, sempre foram segregados ao conhecimento de nosso povo.
Soma-se a esse panorama a confusão ideológica como método de embuste adotado no Brasil, que em díspares momentos de “democracia” foi se enraizando em nossa cultura a multiplicação de desideologia sintetizada nos inúmeros partidos políticos que retratam de forma inconteste nossa pobreza e nossa graduada confusão.
Não temos pobres de direita.
Temos sim o resultado de uma política secular de assimilação e segregação social. Temos um sofisticado método de catequização despolitizadora. Temos uma educação servil e engendrada a perpetuação ideológica da dominação. Temos o estelionato de “esquerdistas” que só têm projeto de poder. Temos sim a incompreensão e o analfabetismo histórico.
O brasileiro comum, refém do coronelismo, da mais atrasada oligarquia, vê a política e seus efeitos uma ação que não lhe pertence, não difere o que é esquerda ou direita, mas se une ao que sua cultura impõe.
Somos um país a ser construído; temos germinado em nosso cerne o complexo de vira-latas, o racismo e as marcas indeléveis do senhoril.
Não temos pobres de direita.
Temos um país despolitizado e segregado dos destinos de sua gente.