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Por que falta água em Ribeirão Preto?

J.F.PIMENTA/ESPECIAL PARA O TRIBUNA

Nos últimos meses os mo­radores da rua A 6, no bairro Jardim Progresso, periferia da zona Oeste de Ribeirão Preto, convivem diariamente com a falta de água nas tor­neiras de suas casas e de seus pequenos comércios instala­dos no local. Para eles, além de ter que improvisar para armazenar o suficiente para as necessidades básicas a principal pergunta que não conseguem responder é: por que a falta de água por lá é tão frequente?

Entender o problema da falta de água na cidade tem alguns motivos essenciais. O primeiro possui relação di­reta com a reservação feita pelo Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto. Apesar de possuir 119 reser­vatórios com capacidade de armazenamento de 146 mil metros cúbicos, a cidade não consegue mantê-los cheios o tempo todo.

Vazamentos- responsáveis por grande parte da perda

Isso porque 70% sistema de distribuição de água na cidade é feito em marcha, ou seja, ela sai direto do poço artesiano para a rede e so­mente o que sobra vai para os reservatórios. Resultado: quando acontece algum pro­blema que interrompe a cap­tação, como as manutenções realizadas pelo Daerp, ou o furto de cabos de energia nos poços, o consumidor tem o abastecimento automatica­mente interrompido porque os reservatórios estão, regra geral, com pouca água. Ribei­rão Preto tem 194,4 mil uni­dades consumidoras e pro­duz 4.500 litros por segundo, o que representa cerca de 324 bilhões de litros diários.

Como a reservação é pe­quena, após a solução dos problemas que causaram a interrupção, a água só vol­ta com capacidade total de pressão a todos imóveis da região atingida, em média, 72 horas depois. Principalmente nos locais mais elevados, já que os moradores das regiões mais baixas – em função do consumo – acabam impedin­do que a água da rede tenha pressão suficiente para atin­gir os locais mais altos antes deste período.

Dona Josefa- operação de guerra para ter água em casa

Para resolver este proble­ma o Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp) está trabalhando para a inversão do sistema. Ou seja, fazer com que água seja levada diretamente do poço para o reservatório e somente depois para a rede, o que, segundo a autarquia, minimizaria o desabasteci­mento nos casos de intermi­tências. O Daerp revelou que estão sendo licitados cinco novos reservatórios que aten­derão bairros como Ribeira­nia, Jardim Heitor e Parque São Sebastião.

Furtos
Outro fator que contribui para a interrupção do abas­tecimento são os furtos de cabos de energia elétrica dos poços artesianos. Dados do Daerp revelam que, em 2018, foram registradas 61 ocor­rências de furtos e tentativas sem que ele fosse consumado. Para tentar diminuir estes nú­meros, o Daerp afirma estar ampliando a vigilância, com operadores de bomba fixos e volantes, que percorrem dia­riamente todos os sistemas. “As portas que dão acesso aos painéis elétricos têm tran­cas e soldas, para dificultar o acesso. As caixas de alvena­ria por onde passam cabos e fios dos poços e reservatórios também são fechadas com ci­mento”, garante.

No Jardim Progresso a inexistência de caixas de re­servação de água em mui­tos imóveis ajuda a agravar a situação. E quando elas existem, a capacidade de ar­mazenamento é pequena: em média 250 litros. Este é o caso de Núbia Muniz, que apesar de possuir caixa reser­vatória pequena, nos últimos meses, só tem conseguido utilizá-la graças a uma pe­quena bomba elétrica que faz a água do hidrômetro ter pressão suficiente para che­gar até o reservatório. “Como aqui falta água durante o dia, tenho que acordar de madru­gada para ligar a bomba e en­cher a caixa que pouco tempo depois está vazia”, diz.

Sebastião Ulian – problema resolvido depois de 45 dias

Os problemas de sua vizi­nha de rua, Josefa Ramalho são bem mais complexos. Como a quantidade de água que tem chegado ao seu hi­drômetro é semelhante à de um conta-gotas, ela faz uma verdadeira operação de guer­ra para encher seu reservató­rio. O primeiro passo é pegar água emprestada da vizinha por meio de uma mangueira e encher uma caixa instalada no quintal da residência. De­pois com uma bomba elétrica leva esta água até o reservató­rio instalado sobre o telhado da casa. “Há mais de quaren­ta dias que estamos pedindo para o Daerp resolver o pro­blema, mas ninguém apare­ce aqui”, afirma dona Josefa. Uma das hipóteses para a pouca vazão no hidrômetro da residência pode ser o en­tupimento da rede em frente ao imóvel.

Ter o abastecimento sus­penso em função do entupi­mento da rede não é exclusi­vidade de bairros da periferia, O aposentado Sebastião Car­los Ulian, residente no bair­ro Alto da Boa Vista, zona Sul da cidade, recentemente também enfrentou este pro­blema

três mil litros instalado em sua residência, ele fazia ope­ração semelhante à de Dona Josefa, do Jardim Progresso. Esperava um pouco de água chegar pela rede, enchia um tambor e com a bomba elé­trica conseguia a pressão suficiente para a água subir até o reservatório. “Depois de abrir vários buracos nas ruas próximas à minha casa, o Daerp descobriu que o pro­blema era um entupimento na rede numa rua lateral ao meu imóvel”, explica.

59% do que é produzido se perde
O Daerp produz 4.500 litros de água por segundo, o que representa cerca de 324 bilhões de litros diários. Deste total, 59% do que é produzido é perdido por vazamentos visíveis e não visíveis, fraudes, furtos e sub-faturamento. É considerado sub-faturamento a medição a menor que hidrômetros fazem em relação ao consumo real. Isso acontece por eles estarem com a validade de cinco anos vencida.

Da perda total, 39% é resultado dos vazamentos e 20% das fraudes, furtos e do sub-fatu­ramento. Vale destacar que os dois principais motivos para o número de vazamentos de água em Ribeirão Preto dizem respei­to à alta pressão da água e ao fato da rede de encanamentos ser antiga.

Com a setorização e a reserva­ção adequada o Daerp garan­te que eles serão reduzidos significativamente em função do controle de vazão e pressão. “Mesmo que ocorram vazamen­tos, a perda será muito menor, porque a pressão será reduzida”, afirma a superintendência da autarquia.

A autarquia destaca também que diminuiu o tempo de espera nos consertos deste tipo e garante que reparos que demo­ravam meses para serem feitos hoje são realizados, em média, em quatro dias. Reparos urgen­tes são feitos em até 24 horas, a maioria no mesmo dia. Diaria­mente o Serviço de Atendimento ao Usuário do Daerp recebe cerca de 19 reclamações.

Os números do Daerp
Poços artesianos -115
Reservatórios – 119
Reservatórios estão em fase de licitação – 5
Bairros que serão beneficiados – Ribeirânia, Jardim Heitor e Parque São Sebastião
Quantidade de água a cidade produz por dia – 4.500 litros por segun­do, o que representa cerca de 324 bilhões de litros diários
Total de reclamações/dia por falta de água – 19 registros
Sebastião Ulian – problema resolvido depois de 45 dias

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