O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) e a Polícia Civil estão à procura de um homem suspeito de ter provocado o incêndio de grandes proporções que destruiu mais de dez hectares de vegetação – entre área de mata, canaviais e bambuzais, o equivalente a dez campos de futebol – na última sexta-feira, 18 de setembro, na Vila do Golfe e na região de Alphaville, na Zona Sul de Ribeirão Preto.
Segundo a promotora Cláudia Habib, tanto o Ministério Público em São Paulo (MPSP) quanto a Polícia Militar Ambiental (PMA) e o 9º Grupamento do Corpo de Bombeiros têm certeza de que o incêndio foi criminoso. Com base em imagens de câmeras de segurança e em depoimento de testemunhas, o Gaema já tem um suspeito e investiga ainda a participação de outras pessoas no crime.
O Gaema já tem as características do suposto incendiário, que foi visto novamente na região no sábado (19) e na madrugada de domingo (20), quando retornou à mata na tentativa de ater fogo na vegetação. O MPSP instaurou inquérito civil e já comunicou a Delegacia Seccional de Polícia Civil e os promotores da área criminal para que colaborem com as investigações.
Na tarde desta segunda-feira (21), o delegado José Luiz Meirelles, do 4º Distrito Policial, na Zona Sul, também instaurou inquérito criminal para apurar o caso. Ele recebeu as imagens da câmeras de segurança dos condomínios da região atingida e vai ouvir moradores que teriam visto o suspeito.
Testemunhas afirmam que um homem em uma perua Ford Belina branca teria começado intencionalmente o incêndio. De acordo com a Promotoria do Meio Ambiente, duas pessoas relataram terem visto um suspeito com características semelhantes. Porém, ninguém havia sido identificado até o fechamento desta edição.
Prevista em lei como crime, a prática de atear fogo em áreas verdes pode resultar em sanções no âmbito civil, por meio da reparação de danos das áreas afetadas, na esfera criminal, com a possibilidade de prisão, e administrativa, com a aplicação de multas. A pena para quem comete este tipo de crime é de dois a quatro anos de reclusão. A multa depende dos danos como a área atingida e os males caudados à fauna e à flora.
A Polícia Civil também investiga a morte de um catador de recicláveis durante uma das queimadas que atingiram a cidade na semana passada. Ele morreu na quinta-feira (17) durante um incêndio em uma mata no Distrito Empresarial Prefeito Luiz Roberto Jábali, na Zona Norte de Ribeirão Preto. Teria ficado preso em meio às chamas. O corpo foi encontrado na sexta-feira (18).
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a setembro deste ano já foram constatadas 30 grandes incêndios em Ribeirão Preto, 18 apenas em setembro (60%), contra dez do ano passado inteiro, alta de 200%.
Segundo o tenente Mario Lima Nascimento, do Corpo de Bombeiros, o fogo que atingiu a Zona Sul da cidade foi o maior dos 15 focos ao longo da sexta-feira, provavelmente causados pelo incendiário, segundo o Gaema. Desde o início do ano, foram registrados 576 focos de queimadas, 351 a mais do que as 225 de 2019, aumento de 156%.
A corporação diz ainda que os incêndios podem ser criminosos, provocados por ação do homem, porque foram constatados vários focos isolados na mesma área. Isso raramente acontece quando a causa da queimada é natural, ainda mais que a cidade ficou mais de 100 dias sem chuva, sem raios.
Incêndios devastadores
Segundo o Gaema, ao menos 12,9 mil hectares, algo próximo de dez mil campos de futebol com as dimensões do Maracanã ou um quinto de Ribeirão Preto, foram destruídos pelo fogo entre maio e agosto na região e motivaram R$ 1,037 milhão em 20 autos de infração.
Somente em agosto foram 34 focos, o dobro do mesmo período do ano passado. Os canaviais correspondem a 85% da área atingida pelo fogo, com 11.082 hectares, de acordo com o levantamento do Gaema, que atua em 29 cidades da região. Incidentes que resultaram em doze autos de infração ambiental e um total de R$ 750 mil em multas.
As matas da região respondem pelos demais 15% do território prejudicado pelas queimadas, com 1.824 hectares, dos quais 254 estão dentro de áreas de preservação permanente. Um prejuízo que representou até agora oito autos de infração e multas da ordem de R$ 287 mil.