André Luiz da Silva *
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Certamente você já ouviu que discutir futebol, política e religião é um convite para polêmicas sem fim. Mas são temas tão envolventes e universais que é difícil evitá-los. Acredito que, com respeito às opiniões contrárias, podemos debater e refletir sobre eles – e talvez até entender melhor por que mexem tanto com a gente.
Nesta semana, o Santos Futebol Clube venceu o Vila Nova por três a zero, garantindo sua volta à Série A do Campeonato Brasileiro. O que poderia ser só festa, no entanto, virou caso de polícia. A comemoração deu lugar ao tumulto: torcedores revoltados atacaram verbalmente o presidente do clube e sua família, que só escaparam de agressões físicas devido à intervenção rápida de seguranças e policiais militares. Para quem vê de fora, é difícil entender como a torcida se enfurece tanto quando o objetivo do ano – o acesso – está sendo cumprido.
Com o fim das eleições nos Estados Unidos e das municipais no Brasil, os holofotes agora se voltam para as disputas da presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal que servem como um aquecimento para as eleições gerais de 2026, e, mesmo faltando mais de dois anos, análises e previsões já fervilham. O Governo Federal, que completa metade do seu mandato, passa por um momento oportuno para uma avaliação desapaixonada.
No governo anterior, programas sociais importantes, como o Minha Casa Minha Vida, foram praticamente abandonados, enquanto áreas essenciais, como saúde, educação e meio ambiente, enfrentaram cortes severos. O cenário era de uma população empobrecida, endividada e sem esperança, com uma inflação que girava em torno de 8,25%.
Atualmente, o salário mínimo voltou a ter um aumento real, a maioria das categorias profissionais teve reajustes acima da inflação e a Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres foi aprovada. Foram criados mais de 2,7 milhões de novos empregos, e a taxa de desemprego é menor em uma década. Segundo dados oficiais, 24 milhões de brasileiros saíram da condição de fome, e a inflação está sob controle. Mas, enquanto o mundo olha para o Brasil com otimismo, cerca de 36% dos brasileiros acreditam que a situação ainda vai piorar e não consegue visualizar os avanços. Muitos dizem: “Só Deus na causa.”
A insatisfação, no entanto, também ecoa no meio religioso. Enquanto algumas denominações enfrentam dificuldades financeiras e veem seus templos esvaziando e até fechando, outras igrejas experimentam crescimento acelerado. Apenas entre as evangélicas, a média é de 17 novas inaugurações por dia no país.
No futebol, a saída rápida para a crise é a troca do treinador, ainda que, na prática, nem sempre seja eficaz. Nas igrejas, a rotatividade também existe: muitos fiéis perambulam de congregação em congregação, e cada templo tenta atrair e reter seus membros. Mas, na política, como enfrentar a insatisfação generalizada?
Diante do descrédito da classe política, surgiram os “Outsiders”: figuras de sucesso em áreas como empreendedorismo, entretenimento e mídias digitais que entram na política com o discurso de “não ser político” e de não ter vínculos com partidos ou grupos tradicionais. Porém, na prática, muitos desses “não-políticos” revelam-se incapazes de promover mudanças reais. No Congresso Nacional, sua atuação é decepcionante, mas nas redes sociais, suas aparições e cortes de discursos têm enorme popularidade.
Compreender as frustrações, os desejos e as expectativas dos torcedores, fiéis e eleitores ainda é um desafio complexo, que parece distante de ser resolvido.
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista