Moradores da comunidade Cidade Locomotiva, uma ocupação feita pelo Movimento dos Sem-Teto em um terreno de mais de 60 mil metros quadrados na rua Peru nº 3.086, no Parque Industrial Coronel Quito Junqueira, na Zona Norte de Ribeirão Preto, filmaram uma operação realizada nesta sexta-feira, 20 de outubro, pela VLI Logística, empresa que controla a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e que é a proprietária da área ocupada – uma ação de reintegração de posse tramita na 6ª Vara Cível.
Os moradores dizem que a empresa está enterrando vagões, trilhos e dormentes no local. Valas de até seis metros de profundidade foram abertas. A VLI nega a prática de irregularidades e diz que tem autorização da Companhia de Tecnologia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), vinculada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA), para fazer a terraplenagem da área.
O temor das pessoas é com os vagões-tanque, principalmente. Dizem que pode haver combustível no interior deles e que os produtos podem contaminar o Aquífero Guarani. Os vídeos foram enviados ao Tribuna e alguns foram postadas no site do jornal (www.tribunaribeirao.com.br). Mostram peças de vagões e para instalação de dormentes e trilhos jogados em vários pontos.
O Tribuna entrou em contato, via e-mail, com o Grupo de Atuação Especial em Defesa do Meio Ambiente (Gaema), que só deve se manifestar na próxima semana. Por meio de nota, a VLI, empresa que controla a FCA, “informa que realiza uma série de serviços preparatórios e de terraplenagem no Pátio Ferroviário de Ribeirão Preto para a ampliação do mesmo e a construção de uma nova oficina”.
Diz ainda que “atualmente, a primeira fase, que é de terraplenagem do terreno está sendo concluída juntamente com a separação adequada dos materiais. Os vagões estão apenas sendo realocados no terreno para facilitar o manuseio durante as atividades.” Um engenheiro da VLI Logística esteve no local e conversou com os moradores. Ele informou que a empresa mantinha 55 vagões na área e já retirou 20. Os outros 32 estariam sendo reformados. Mas algumas pessoas garantem ter até fotos de funcionários “picotando” os trens para que fossem enterrados.
Também por meio de nota, a Cetesb diz que a Ferrovia Centro Atlântica (empresa administradora da ferrovia que concedeu à VLI Logística os trabalhos operacionais no trecho de Ribeirão Preto) obteve, desta Cetesb, licença prévia (LP) e licença de instalação (LI), para oficina de manutenção e reparação de veículos ferroviários, que integra projeto referente ao antigo pátio de manobras a ser reformado.”
Diz, ainda, que “antes do início das obras, se fez também necessária a obtenção de autorização para a remoção de alguns indivíduos arbóreos isolados. Essa autorização foi também emitida. Antes do licenciamento, ainda, foi consultada a Diretoria responsável na Cetesb pela avaliação de elaboração de EIA/Rima (estudo de impacto ambiental), a qual concluiu pelo licenciamento, tal qual foi realizado pela agência.” No entanto, a Cetesb diz que “não consta do licenciamento ambiental as práticas denunciadas” e que vai investigar o caso.