Chamamos de “Poéticas de investigação” os estudos efetuados na área de Humanidades, contexto no qual o “objeto estético” tanto pode ser a obra criada por uma artista, quanto sua gênese (criação) ou biografia do artista que a criou. Convenção da cultura, descortina-se, também, em diários, cartas, pinturas, objetos colecionados, esboços, entre outros tantos, os quais aproximam o público da feitura do que foi criado. A importância disso? Revelar, cientificamente, que processos de criação envolvem saberes, fazeres e intervenções decorrentes de dialogismos interdisciplinares que descortinam diferentes formas de pensar e refletir a obra que se quer criada. Sua prática, ou “método”, residindo Ao relacionarmos a realidade contemporânea das cidades, de seus habitantes e das relações que a ambos envolvem, os meios que as comunicam chamam a atenção para o novo, então produzido, e sua difusão pelos mesmos. Ou seja, sobre a arte que é crítica do hábito, da liberdade, da produção da vida e, enfim, de tudo que nos toca a sensibilidade. Uma arte, enfim, que questiona e que se autoquestiona.
Ao contrário do que ocorre entre o método científico e as poéticas de investigação, há semelhança entre os modos de fazer artísticos e os modos de fazer nos estudos em Humanidades. Enquanto naqueles o texto escrito é a divulgação dos resultados da pesquisa, nestes últimos, cria-se para pensar. Pensar sendo uma forma de conhecer, um questionamento. Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo, ensaísta, jornalista e ativista político espanhol, em “A rebelião das massas”, assim se expressa sobre o assunto: “outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios ou mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especialidade; mas tampouco é um ignorante, porque é ‘um homem de ciência’ e conhece muito bem sua porciúncula de universo. Devemos dizer que é um sábio ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem na sua questão especial é um sábio”.
Assim, cumpre esclarecer que o conhecimento científico especializado não se traduz no enriquecimento da cultura geral, mas, sim, da cultura pontual. Imbricar-se pelo mundo dos aspectos sociológicos, psicológicos, filosóficos, históricos, etc, para conhecer outros aspectos de um mesmo assunto só enriquece o ser humano. Discursos favoráveis à interdisciplinaridade agregam benefícios e qualidades ao exercício do conhecimento de mundo do ser. Por certo, ao toque de um dedo em tela de cristal líquido, ou em tecla de um micro, o homem tem acesso a muitas informações. Entretanto, continua sendo ele o filtro fundamental: o que seu livre-arbítrio determinar que deve ser escolhido para conhecer sempre será diferente do que outra pessoa poderá vir a destinar como fundamental sobre determinado assunto.
Sobre isso, Gilbert Durand (1921-2012), filósofo, sociólogo e antropólogo francês, afirma que, os maiores avanços da Ciência não se devem à especialização, como em geral se pensa, mas, sim, à formação humanística desses homens e mulheres. Diversidade de pensamentos implica em possibilidades de produção de novos objetos do conhecimento. Despir-se de um par de óculos que só enxergam um único caminho, um único modo de fazer e um único objeto é o que produz efeitos reais de poder no saber. Em suma, assim como o pensamento científico confere avanços às ciências e tecnologias, por outro, os desdobramentos oriundos dos diversos campos do conhecimento são geradores de diferentes níveis de complexidade, reclamando diálogos mais amplos, entre, e além de, disciplinas. Conhecer, então, é a base para toda sociedade que se afirma pensante.