Tribuna Ribeirão
Economia

Pobreza atinge mais de 51,7 mi no Brasil

FERNANDO FRAZÃO/AG.BR.

Quando a recessão causada pela covid-19 atingiu a econo­mia, a partir de março, o mer­cado de trabalho já estava fragi­lizado e, no ano passado, 51,742 milhões de brasileiros, ou 24,7% da população, estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média-alta.

Esse contingente sobrevive com renda mensal de, no má­ximo, R$ 436 por pessoa do do­micílio. Dentro desse grupo, os considerados extremamente po­bres – com renda mensal de até R$ 151 por pessoa do domicílio – eram 13,689 milhões em 2019, 6,5% da população, informou nesta quinta-feira, 12 de novem­bro, o Instituto Brasileiro de Ge­ografia e Estatística (IBGE).

Na passagem de 2018 para 2019, o quadro mudou pouco. Três anos de baixo crescimento econômico entre 2017 a 2019, sempre abaixo de 2% ao ano, mantiveram a tendência de alta da pobreza, que cresceu forte­mente com a recessão anterior à atual, de 2014 a 2016.

Em 2014, quando 22,8% dos brasileiros estavam abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para paí­ses de renda média-alta, menor proporção desde 2012, o con­tingente era de 45,817 milhões. De lá para o ano passado, 5,926 milhões passaram abaixo dessa faixa de pobreza, uma alta de 12,9% no período.

Também em 2014, os extre­mamente pobres eram 4,5% da população, ou 9,033 milhões de pessoas. Entre aquele ano e 2019, 4,656 milhões de brasilei­ros passaram a essa condição, um salto de 51,5%. De 2018 para 2019, foram 151 mil a mais na extrema pobreza.

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2020, feita com base na Pes­quisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pna­d-C), do IBGE. Referentes a 2019, não captam os efeitos da pandemia. As primeiras in­formações sobre a crise atual, obtidas pela Pnad Covid, mos­tram redução da pobreza.

Neste caso, a pobreza é medi­da apenas pela renda monetária, ou seja, não levam em conta ou­tros aspectos, como patrimônio. A queda foi puxada pelo auxílio emergencial pago pelo governo federal aos trabalhadores infor­mais de baixa renda. Em meio à pandemia, mais da metade da população foi beneficiada de al­guma forma pelo benefício.

Essa queda da pobreza ten­de a ser temporária, ou seja, os brasileiros mais vulneráveis vol­tarão a ficar mais pobres quando o auxílio for extinto. A SIS 2020 mostra que, de 2018 para 2019, além de o estrago da recessão de 2014 a 2016 em termos de au­mento da pobreza não ter sido desfeito, a desigualdade de renda permaneceu elevada.

Como já divulgado pelo IBGE em maio passado, em 2019, o Índice de Gini do ren­dimento domiciliar per capita ficou em 0,543 (quanto mais próximo de 1,0, maior a desi­gualdade), acima do 0,540 de 2012, ano inicial da série do indi­cador, e do 0,524 de 2015 (0,524), menor registro desde então.

O estudo ressalta ainda ou­tras formas de desigualdade, como o fato de a pobreza atin­gir mais as mulheres e as pes­soas de pele preta ou parda. No caso da cor da pele, 56,3% do total da população se diz preto ou pardo, mas, entre os 13,689 milhões extremamente pobres, eles representam 76,7%.

“A pobreza atinge de forma mais forte as mulheres pre­tas ou pardas”, afirma Bárbara Cobo, analista do IBGE. Em termos regionais, 27,2% da po­pulação vive no Nordeste. No contingente dos extremamen­te pobres, mais da metade, ou 56,8% vive na região.

Desemprego de longa duração
Antes mesmo de a pande­mia aniquilar 14 milhões de va­gas de trabalho, entre formais e informais, entre fevereiro e julho deste ano, o desemprego de lon­ga duração já se espalhava pe­los trabalhadores brasileiros. O Brasil é destaque mundial nesse quesito, segundo a SIS 2020.

Considerando dados de 2018 e a proporção de desem­pregados há um ano ou mais, o Brasil tem a quarta pior taxa, num ranking com países da Or­ganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais ricas do mundo. O país aparece atrás apenas de Grécia, Espanha e Itália. Em 2019, 27,5% dos desocupados no Brasil esta­vam nessa situação há dois anos ou mais, segundo a SIS 2020.

Desigualdade de renda
O índice de Gini (0,543) caiu em relação a 2018 (0,545), mas ficou superior a 2015, ano que teve o indicador mais baixo da série, com 0,524. O país é o nono mais desigual do mundo segundo o Banco Mundial. O índice é usado para medir a desigualdade so­cial, em que zero corresponde a uma completa igualdade na renda e 1 corresponde a uma completa desigualdade.

A Região Sul é a que tem a menor desigualdade de renda, com 0,467. O Nordeste teve a maior desigualdade, com 0,559, e aumentou em relação a 2018, enquanto as outras re­giões tiveram queda em com­paração ao ano anterior.

Em 2019, a parcela de 10% de pessoas com meno­res rendimentos domiciliares per capita recebia 0,8% do total da renda do país. À me­tade da população brasileira correspondiam 15,6% dos rendimentos observados, ca­bendo aos 10% com maiores rendimentos 42,9% do total da renda.

Os 10% com maiores ren­dimentos são compostos por 70,6% da população branca. Os 10% com menores ren­dimentos são compostos por 77% da população pre­ta ou parda. Entre os 10% com menores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio em 2019 foi de R$ 112. Entre os 10% com maiores rendimentos, o ren­dimento domiciliar per capi­ta médio no ano passado foi de R$ 3.443.

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