No auge da pandemia de covid-19 no país a taxa de pobreza social chegou ao seu maior percentual da série histórica do levantamento sobre a pobreza no Brasil, iniciado em 2012. Em 2021, 30,4% dos brasileiros, ou 64,6 milhões de pessoas, estavam abaixo da linha de pobreza social. Em 2019, último ano antes da pandemia, essa taxa era de 26,3%, o que representava 55 milhões de pessoas. Ou seja, entre 2019 e 2021 houve um crescimento de 4,1 pontos percentuais na taxa de pobreza social, o que significa que 9,6 milhões de brasileiros caíram para baixo da linha de pobreza social ao longo do período no Brasil.
As informações estão no relatório “Pobreza Social no Brasil: 2012-2021”, produzido por pesquisadores do Laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) disponível no site www.pucrs.br/datasocial. A fonte de dados utilizada é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o cálculo da linha de pobreza o estudo utilizou a renda domiciliar per capita, incluindo os rendimentos provenientes do trabalho formal ou informal e, também, de outras fontes, como seguro-desemprego, aposentadorias, programas de transferência de renda.
Em relação a estudos anteriores sobre o tema, o levantamento inova ao adotar uma medida de pobreza que, baseada em relatórios do Banco Mundial, reflete tanto a dimensão absoluta quanto a dimensão relativa da pobreza. Todos os indivíduos abaixo da linha de extrema pobreza, ou seja, com renda de R$ 182 per capita, são automaticamente considerados em situação de pobreza social. Mas, além destes, também são considerados pobres aqueles com renda abaixo da metade do valor da mediana da distribuição de renda em um determinado ano.
De acordo com os dados levantados, os grupos mais atingidos no país pelo aumento da pobreza social foram os negros e moradores das regiões Norte e Nordeste. Enquanto entre os brancos, em 2021, a taxa de pobreza social era de 19,4%, entre os negros ficava em 38,9%. Em relação às regiões geográficas, em 2021 a taxa de pobreza social era de 36,4% na região Nordeste, 33,9% na região Norte, 29% na região Sudeste, 28,4% na região Centro-Oeste, e 24% na região Sul.
De acordo com Ely Mattos, coordenador do Data Social, o Brasil é um país em que as desigualdades são marcadas por disparidades não apenas funcionais ou educacionais, mas também regionais e de raça, o que torna o fenômeno ainda mais complexo para ser enfrentado.
O estudo também mostra que em todas as regiões, assim como ocorreu para o país como um todo, houve forte aumento da pobreza entre 2019 e 2021. Mas que a tendência de elevação da pobreza social vinha se apresentando desde o ano de 2014. Se, naquele ano, o país chegou ao menor valor da série histórica, com 24,9%, em 2016 a taxa de pobreza social já chega a 27,8%.
O estudo traz informações de que a pobreza social não apenas está aumentando, como vem também se tornando mais grave. Entre 2019 e 2021 o chamado hiato da pobreza, que representa o valor médio da distância entre a renda dos pobres e a linha de pobreza, subiu de R$ 60,5 para R$ 71,3. Em 2014, por sua vez, essa cifra era de RS 50,8.
Ou seja, os pobres ficaram ainda mais pobres no período. E, como consequência tanto do aumento da pobreza quanto da sua gravidade, o custo hipoteticamente necessário para tirar as pessoas da pobreza social aumentou. Em 2014 seriam necessários 2,5 bilhões de reais por mês (a preços de 2021). Já em 2021, a estimativa é que seria preciso 4,6 bilhões de reais mensais.
Ribeirão tem quase cem favelas
Segundo recente levantamento da Central Única das Favelas (CUFA) Ribeirão Preto possui cerca de cem favelas registradas. Porém, a entidade acredita que esse número pode ser maior levando em conta a crise econômica que o município – a exemplo do país e do mundo -, enfrentou por causa da pandemia de covid-19.
A estimativa é que cerca de 45 mil pessoas vivam nas favelas em Ribeirão Preto, hoje denominadas comunidades. O maior núcleo de Ribeirão está no bairro Adelino Simioni, às margens da avenida Magid Simão Trad, onde vivem entre 450 e 600 famílias. Já a ocupação mais antiga é a chamada Favela das Mangueiras, na Vila Virginia.
Favela
A palavra “favela” apareceu pela primeira vez no mundo em um documento oficial de 4 de novembro de 1900. Em função disso, a data passou a ser reconhecida internacionalmente como o Dia da Favela, como forma de lembrar à sociedade a existência destes núcleos habitacionais urbanos sem infraestrutura de todos os tipos para seus moradores. A data é adotada em 17 países e em 200 cidades brasileiras.
Em 2006, a participação da Central Única das Favelas foi fundamental para que a data passasse a ser comemorada no estado do Rio de Janeiro e entrasse no Calendário Oficial da cidade. Desde então, o dia também passou a ser lembrado em outros municípios brasileiros. Atualmente a Central atua em cerca de 5 mil favelas no Brasil e em mais 17 países.