“Nós não precisamos de novas paisagens; precisamos, isto sim, de novos olhos” (Marcel Proust 1871 – 1922)O solo, a terra: dois nomes para um elemento esquecido e tão importante…
É dele que são extraídos os nossos alimentos!
É nele que nos assentamos!
É com ele que nos permitimos viver!
É, no entanto, por procedimentos irresponsáveis, que estamos fazendo o solo se enterrar a si mesmo. Vejamos:
A zona urbana inchada e sem planejamento de ocupação, impermeabilizada por uma manta asfáltica de péssima qualidade, efetuada por administrações passadas, diga-se de passagem, não deixa o solo respirar, ou ao menos tomar um banho de chuva.
Explodem-se nele emissários de esgoto a todo instante, fazendo-o sofrer os resultados. Rompem-se barreiras, abrem-se crateras, surgem voçorocas…
Sua proteção vegetal simplesmente desapareceu. Assim, o que sobrou não impermeabilizado pelo “progresso” é levado aos cursos d’água urbanos e a partir deles vão assorear os grandes rios, fazendo com que a vítima, o solo, seja transformada em vilão.
Drenagem urbana, planejamento viário, arborização e plantios que possam equilibrar a ocupação do solo, quebra de paradigmas naturais de forma inconsciente e irresponsável, são alguns dos itens que devem ser repensados, não apenas pelo poder público atual, aí me redimo em dizê-lo apenas parcialmente culpado isto sim e principalmente, por ocupantes anteriores e pela população seja a passada ou a presente porém pela população como um todo, desde aquele que tem um pequeno quintal no fundo de sua moradia, até os grandes loteadores que com sua ganância degradam o patamar onde pisam e constroem suas fortunas.
No início desta pequena série de crônicas, comentei a respeito do lixo jogado às margens de nossos cursos d’água. Acontece que são jogados no solo, degradando-o, causando problemas sanitários e criando toda sorte de animais peçonhentos. Talvez também seja por isso que o solo – a vítima – passe a ser considerado o vilão.
Será que algum dia, nós, a população, as autoridades civis, por nós escolhidas, iremos ter a responsabilidade de, não digo recuperar os malefícios causados por décadas de falta de planejamento, para não dizer falta de responsabilidade, porém de estabelecermos um basta à degradação que estamos provocando em nome de um progresso sem sustentabilidade? Que tal começarmos a pensar nisto…
Será que algum dia vamos poder olhar para nossos filhos e netos e mostrarmos um município calcado em “solo firme”, onde o lixo é colocado no lixo, o asfalto e o concreto impermeabilizadores do solo sendo utilizados em locais definidos que não causem maiores problemas à drenagem urbana e à absorção da água e, então, poderemos, em uma pausa de reflexão, pensar alto: “a sustentabilidade está aí; vamos continuar a trajetória e ela começa no solo”.
Com a palavra todos nós, autoridades, munícipes urbanos e rurais.