O grupo instrumental ribeirão-pretano Pó de Café lança nesta sexta-feira, 30 de abril, seu primeiro single do ano, “Lockdown”, de autoria do baixista Bruno Barbosa. A música já está em todas as plataformas digitais gratuitamente. O link para acesso é https://tratore.ffm.to/podecafe-lockdown, a partir da data do lançamento. É a primeira gravação do grupo desde o álbum “Terra”, de 2017. O lançamento foi possível graças ao edital 003/2020 da Lei Aldir Blanc de Ribeirão Preto.
“Lockdown” é parte do novo disco do grupo, gravado em março deste ano. O álbum completo vai ser lançado até o mês de junho. “Desde o ano passado fomos adiando todas as nossas atividades devido à essa longa quarentena. Sem shows, sem gravações. Mas aí o edital da Lei Aldir Blanc nos deu um fôlego para darmos início a esse trabalho, que já estava em nossos planos desde 2019”, conta Bruno Barbosa.
Formado por Rubinho Antunes (trumpete), Marcelo Toledo (sax), Murilo Barbosa (piano), Bruno Barbosa (baixo), Duda Lazarini (bateria) e Neto Braz (percussão), o Pó de Café gravou o novo trabalho em estúdio, seguindo rígidos protocolos sanitários, com o uso de máscaras e distanciamento social e com apenas duas pessoas além da formação: o técnico Thiago Monteiro, que já gravou todos os trabalhos anteriores do grupo, e o produtor musical Eduardo Brechó, novo parceiro escolhido para colaborar na direção artística.
“Lockdown” traduz o momento mundialmente turbulento da pandemia – uma catástrofe de proporções mundiais, mas com efeitos sentidos de forma muito individual, com a vida reduzida a um eterno home office. A composição é um funk que alterna compassos “quebrados” em 7 de abril com uma melodia solitária e longínqua.
A harmonia modal aumenta a tensão até os improvisos finais, culminando num corte abrupto: de repente, tudo pode mudar, recomeçar ou simplesmente acabar.“Essa acaba sendo a temática do disco que virá. Uma tentativa de expressar a tensão, a raiva, a frustração desses dias, mas também de mostrar que a criação musical não se encerra”, explica Bruno Barbosa.
A faixa também dá uma mostra de que o som do Pó de Café continua em evolução. Apesar de seguir o caminho estético já bem estabelecido desde o disco “Amérika”, com a fusão de elementos brasileiros, afrocaribenhos e jazzísticos, “Lockdown” traz pitadas de sonoridades mais elétricas, mais bem organizadas como a soul music.
“Desde a escolha dos timbres, o tipo de captação e mixagem, até a própria estrutura das composições, mais voltadas a grooves, fomos levando as músicas para uma concepção mais direta, enxuta, ainda que carregada das linhas de baixo e levadas percussivas que sempre caracterizaram nosso som”, destaca Bruno Barbosa.
Sobre o Pó de Café
O grupo começou como um encontro informal de músicos profissionais de Ribeirão Preto que tinham a intenção de explorar a musicalidade do jazz e da música instrumental. Com sucesso do evento cultural “Jazz na Coisa”, que teve mais de 70 edições em parceria com o Espaço a Coisa entre 2010 e 2012, surtiu o impulso para gravar o primeiro disco: “Pó de Café”, em 2013, reuniu as composições de alguns dos músicos convidados que passaram pelas noites do “Jazz na Coisa”.
O show de lançamento do disco “Amérika” percorreu várias cidades do interior de São Paulo, participou do festival Sesc Jazz & Blues, fez parte da programação oficial da Semana Internacional de Música (SIM) de São Paulo, em dezembro de 2015 e recebeu convite para seu primeiro festival internacional, o Jazz à laCalle, na cidade de Mercedes (Uruguai), em janeiro de 2017.
E foi em 2017 que o grupo novamente entrou em estúdio para registrar um terceiro disco, novamente buscando um conceito sonoro que norteasse a produção e resultasse em um jazz brasileiro com uma cara diferente. Partindo da ideia de homenagear as raízes do grupo ribeirão-pretano, o grupo pesquisou a temática da música “caipira” e a traduziu numa linguagem jazzística moderna.
O resultado foi surpreendente, e o disco teve ótima repercussão no meio especializado. Da Folha de S. Paulo, o veterano Carlos Calado incluiu “Terra” entre os 50 melhores discos de 2017. Em 2019, o grupo Pó de Café fez uma espécie de retorno ao jazz tradicional – afinal, a admiração pelo jazz norte americano foi o elemento que uniu os quatro músicos originalmente – e homenageou os 60 anos do disco “Kindof blue”, do genial bandleader Miles Davis.
No show, o grupo toca as seis músicas do disco intercaladas com comentários do crítico musical e humorista Reinaldo Figueiredo. Em 2021, após praticamente um ano sem apresentações, o grupo se prepara para gravar o quarto disco com temas compostos nesse período, reforçando o projeto de celebrar o encontro das raízes musicais afro-brasileiras com os sons do jazz.