Perci Guzzo *
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Se soubermos reconhecer com sabedoria que a imprudência e o improviso nos mata, deixa sequelas e traz sofrimentos às nossas vidas, conseguiremos valorizar a importância de planejar antes de decidir. As decisões estão inevitavelmente impregnadas de poder e para tomá-las é essencial que estejamos embasados pelo conhecimento e pela participação das pessoas afetadas por essas decisões.
O que explica tantos erros, interrupções, refazimentos e transtornos à vida coletiva em uma cidade, em um país ou mesmo, no planeta?
No país onde nasci e vivo, o improviso impera e a inteligência tem perdido espaço para ignorância e a burrice. Diante dos cenários cada vez mais complexos da vida contemporânea, é fundamental nos esforçarmos para estabelecer uma cultura de planejamento. Essa seria uma decisão estratégica para minimizar injustiças e desordens, ou numa perspectiva científica, diminuir a entropia.
Há três fases sequenciais do planejamento. Segui-las nos ajuda a cumprir metas e alcançar objetivos previamente estabelecidos. Para exemplificar, trago a experiência em curso do Plano de Áreas Verdes e Arborização de Ribeirão Preto.
Diagnóstico. Conhecer a realidade e reconhecer os problemas e conflitos. Qual é a condição atual das áreas verdes públicas e privadas, como estão distribuídas pela cidade, que funções estão deixando de desempenhar e como a população percebe e sente a presença, carência e a qualidade desses espaços? Quanto temos de cobertura vegetal na cidade, como está distribuída pelos setores urbanos, qual é o déficit e qual a qualidade do manejo empregado na vegetação existente?
Importante dizer que há métodos reconhecidos pela ciência para fazer diagnósticos bem-feitos. Aqui cabe um segundo comentário: há discursos e entendimentos (cravados) que partem do desconhecimento de causa ou de diagnósticos superficiais.
Prognóstico e diretrizes. Cientes e conscientes da realidade, nua e crua, são feitas inferências do que poderá acontecer no futuro, próximo e distante, se mantivermos o modo de gerenciar o setor em questão. Em seguida, acrescido do conhecimento de técnicos e gestores e da opinião da população, são estabelecidas diretrizes, ou seja, o rumo de onde se pretende chegar.
Costumo dizer que o rumo é mais importante que a velocidade. Perde-se tempo, energia e recursos quando aceleramos em sentido equivocado ou contrário. Em ano eleitoral é preciso estarmos atentos a esse risco. Estejamos atentos a resultados parciais que também importam em um processo de planejamento.
Plano de ação e monitoramento. Ordenar as ações em cronograma, definir prioridades, indicar necessidades orçamentárias e plani
ficar os serviços e meios administrativos para execução do plano de ação. Definir indicadores que terão a função de demonstrar a efetividade da implantação do plano.
Investir é decisivo quando se trata de galgar uma mudança no padrão de determinado serviço prestado à comunidade. Estudos demonstram que o sombreamento do asfalto com árvores de copas amplas e sempre verdes, economiza até 58% do gasto anual com manutenção desse piso (quente e caro) para veículos.
A cadeia produtiva de plantios, manejo adequado, conservação da vegetação urbana, paisagismo produtivo e sustentável e projetos de rearborização (incluindo readequações urbanísticas) deverá alavancar a economia verde das cidades.
Vocês conhecem aquela imagem do capitão de navio que olha o continente ou mesmo o mar sem fim com uma pequena luneta? Essa é a imagem que tenho de alguém que planeja; de alguém que deseja ver para além do muro. É ela que desejo que vocês gravem. Diventiamo tutti capitani di fregata.
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições
Planejar para não sofrer (mais)
