Perci Guzzo *
[email protected]
A Portaria 1.219 de 26 de julho de 2023 da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (PMRP) nomeou o Grupo de Trabalho Intersecretarias (GTI) com a função e a responsabilidade de elaborar o Plano Estratégico do Sistema de Áreas Verdes e Arborização Urbana, conforme os artigos 7º, 64 e 177 da Lei Complementar (LC) 2.866/2018 que dispõe sobre o Plano Diretor do Município.
Um primeiro Cronograma de Trabalho está sendo seguido com ações coordenadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). A fase de Diagnósticos será elaborada pela PMRP e, se necessário, por serviços a serem contratados e/ou parcerias institucionais. Em seguida, o Plano contará com a participação da sociedade civil organizada, de especialistas e de representantes dos conselhos municipais afins. Esta fase se constituirá de oficinas de planejamento participativo e possivelmente na constituição de um grupo de trabalho ampliado.
Em recentes entrevistas realizadas com o corpo técnico da PMRP, é expressa a motivação por realizar tal trabalho já que todos se sentem capacitados e comprometidos para tal. Sendo elaborado e coordenado pela própria instituição, garante-se, inequivocadamente,maior chance de exequibilidade do Plano. Para que isso se torne uma realidade promissora, é essencial que a realização deste trabalho de planejamento se torne uma prioridade para o governo municipal.
Não podemos ampliar a magnitude de riscos à dignidade da vida, já que vivemos uma convergência de diferentes crises:emergência climática, erosão da biodiversidade, deterioração da saúde mental, diferença social no acesso a bens e serviços, suscetibilidade a novas epidemias, guerras etc, etc. Temos que acertar!
Em fevereiro de 2022 terminávamos o Inventário amostral de arborização viária. Dez por cento do calçamento da cidade – 290 km lineares – foi inventariado com identificação das árvores existentes, suas condições, e dos vazios arbóreos. Estes somaram aproximadamente 29.000 pontos; as árvores, outros 28.000 pontos. Se considerarmos a cidade como tal, ou seja, com as condições urbanísticas já dadas, 75% dos plantios seriam de espécies de pequeno porte. Mas nós precisamos de sombras mais generosas!
As calçadas precisam ser redesenhadas e reconstruídas onde essa mudança estrutural for possível. Precisamos começar e ao fazê-lo devemos projetar espaços adequados para árvores de médio e grande portes. Não devemos abaixar nossas cabeças aos fios, mas sim progredir na substituição de fiações convencionais por aéreas protegidas e subterrâneas. Se árvore também é infraestrutura urbana, o setor deve receber investimentos, atenção e esforços a altura de sua importância e necessidade nos tempos atuais.
O índice de cobertura vegetal em área urbana no dia 21 de outubro de 2021 era de 12,7%. É provável que se medíssemos em fevereiro seria maior e se o fizéssemos em agosto, menor. Em 2017, o prof. Demóstenes Ferreira da Silva – Departamento de Ciências Florestais Esalq USP – encontrou um índice de 17%; valor semelhante ao encontrado pela Plataforma UrbVerde, em 2022. A vegetação que temos não é a suficiente, mas o que existe tem enorme valor para todos nós. Arborizar também é saber cuidar.
Precisamos de outros 15%, ou outros 30% para interferirmos no balanço energético e térmico desta cidade que coleciona muitos dias quentes e áridos ao longo do ano.Mas não é somente a vegetação que dará conta de arrefecer o calor gerado pelas atividades humanas. Outras medidas de mitigação deverão se somar ao incremento da vegetação. Uma delas, sem dúvida, é a diminuição de pisos impermeáveis, inclusive asfalto.
A resiliência deste ecossistema urbano chamado Ribeirão Preto se constituirá se envidarmos esforços conjuntos. Nossas competências e desejos podem convergir para o bem maior da coletividade. Uma grande parcela de seus moradores não vive a maior parte do tempo em espaços onde o ar é refrigerado e não são sócias de clubes onde há piscinas e grandes espaços arborizados. Nós devemos pensar e fazer, sobretudo, por essas pessoas.
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições