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Pix e pânico: quando a mentira viraliza mais que a verdade 

André Luiz da Silva *
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Certamente você já ouviu a famosa frase: “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade.” A célebre máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista, aplica-se com perfeição ao contexto atual de desinformação, especialmente no Brasil, que recentemente experimentou uma das maiores anomalias jurídicas, sociais e econômicas de sua história contemporânea. Tudo começou com a publicação de uma normativa do governo federal, cujo objetivo era promover maior transparência e combater a evasão fiscal por meio de ferramentas digitais integradas ao monitoramento de instituições financeiras. A proposta não criava novos impostos, preservava o sigilo bancário e, para os cidadãos que já cumprem suas obrigações fiscais, não oferecia qualquer risco.

No entanto, os ataques contra essa normativa, por pessoas inescrupulosas gerou um verdadeiro caos. Notícias falsas desencadearam pânico na sociedade, desacreditando o Pix, um dos meios de pagamento mais populares no país. Muitos comerciantes deixaram de aceitar transferências via Pix, enquanto outros passaram a cobrar taxas adicionais. O ápice dessa onda de desinformação foi protagonizado por um deputado federal, que divulgou um vídeo com informações falsas, alcançando impressionantes 222 milhões de visualizações em apenas 24 horas, número superior à própria população brasileira. Isso aconteceu em um momento crítico, em que algumas gigantes da tecnologia, como a Meta, interromperam programas de verificação de fatos.

Diante desse cenário, o governo federal revogou a normativa original e editou a Medida Provisória 1.288/2025, proibindo a cobrança de taxas em transferências via Pix e reafirmando que ele não será alvo de impostos ou tributos. A confusão foi celebrada por opositores, grandes sonegadores e por indivíduos que utilizam meios digitais para práticas ilícitas, como lavagem de dinheiro.

O episódio acendeu um alerta para o governo, que já preparava mudanças significativas na Secretaria de Comunicação Social. O Presidente da República destacou a necessidade de reforçar o sistema oficial de informação, em linha com uma preocupação global. Hoje, mais de 70 países ou blocos regionais criminalizam a disseminação de desinformação no ambiente digital.

A pandemia de Covid-19 já havia demonstrado o impacto devastador das notícias falsas, responsáveis por milhares de mortes. Ainda assim, as pessoas continuam a acreditar em mentiras por razões como viés de confirmação, influência de grupos, falta de pensamento crítico e repetição constante de informações falsas. A mentira não apenas influencia decisões individuais, mas também exerce controle sobre coletividades e processos políticos.

Governos de todo o mundo tentam combater a desinformação com estratégias que incluem refutar alegações falsas, corrigir percepções equivocadas e expor ações mal-intencionadas dos responsáveis pela divulgação de mentiras. Contudo, esse esforço precisa ser complementado pela ação consciente de cada cidadão. Atos simples, como checar a data da publicação verificando se a história ainda é relevante e se está atualizada. Não aceitar uma notícia como verdadeira só porque ela foi enviada por um familiar ou alguém que temos afinidade; tão pouco taxar como falsa toda notícia que vier de pessoas ou grupos com os quais não temos simpatia.

Num mundo onde a verdade é constantemente desafiada pela mentira, o papel de cada indivíduo é vital. Que tal começarmos agora? Reflita, verifique e questione. Só assim poderemos construir uma sociedade mais informada, crítica e, sobretudo, resistente ao poder destrutivo da desinformação.

* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

 

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