Por Antonio Gonçalves Filho
A Pinacoteca do Estado preparou para 2022 um calendário de exposições que contempla um time de conhecidos artistas brasileiros e estrangeiros. Entre os primeiros, o principal nome é o da artista carioca Adriana Varejão, de 56 anos, que há 40 trocou o curso de engenharia pela pintura e construiu uma sólida carreira com passagem por bienais e museus estrangeiros. Adriana inaugura sua individual no dia 26 de março do próximo ano, mostrando 60 obras, entre pinturas (de 1985 a 2021) e esculturas da série Ruínas – estas serão expostas no Octógono da Pinacoteca Diretor da instituição, Jochen Voltz divulgou em primeira mão ao Estadão a lista de mostras programadas, entre as quais um projeto ambicioso que vem sendo preparado há quatro anos, o da exposição Pelas Ruas: Vida Moderna e Diversidade na Arte dos Estados Unidos, que será aberta dia 27 de agosto de 2022 e vai trazer a São Paulo telas de Georgia O’Keefe, Edward Hopper e Andy Warhol.
É certo que todos esperam que os museus paulistas comemorem os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 22 com alguma mostra alusiva à revolução estética dos modernistas deflagrada naquele ano do ruidoso evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo A Pinacoteca, revela Jochen Volz, não ficará fora das comemorações. “No segundo semestre teremos um olhar sobre o modernismo por meio de revistas como Klaxon, Estética e Verde”. Elas pertencem à coleção Ivani e Jorge Yunes e contam a história do movimento modernista ainda em sua fase embrionária por meio de ilustrações e ensaios.
“Nosso próprio acervo já desempenha um papel importante nesse processo de reflexão sobre as raízes do modernismo”, acentua Volz, lembrando que obras pré-modernistas como as do pintor Almeida Jr. constituem provas de antecipação das pautas que seriam desenvolvidas pelos modernistas. Adriana Varejão, segundo Volz, representa uma legítima herdeira desse ideário modernista. “É uma artista que tem quebrado, tanto formal como conceitualmente, os paradigmas da pintura brasileira, fazendo referência direta à antropofagia” – um movimento iniciado com o Manifesto Antropofágico (1928) do escritor Oswald de Andrade, que defendia a deglutição da cultura não só dos antípodas europeus e americanos como dos afrodescendentes e dos índios. “O que estamos discutindo hoje Adriana já discutia nos anos 1990, propondo uma outra leitura da história colonial brasileira”, acrescenta Volz, que ajudou a montar o pavilhão dedicado à artista no Instituto Inhotim de Brumadinho (MG), entre 2005 e 2008 (ele foi diretor da instituição de 2005 a 2012). “A Semana de 22 em si, como evento, não tem relevância direta no meu trabalho. No entanto, de uma forma mais ampla, esse e vários outros movimentos modernos em outros estados ajudaram a criar um certo olhar para o que pode ser uma arte brasileira. Todos eles despertaram a busca por uma produção mais local e incorporaram tradições barrocas e populares”, diz Adriana.
Dois outros artistas que ocuparão a agenda da Pinacoteca no próximo ano seguem, ainda que por outros meios, a pauta de questões levantadas pelos modernistas de 22. Jonathas de Andrade, nascido em Maceió e radicado no Recife, desenvolve um trabalho crítico sobre as narrativas coloniais. Sua mostra na Estação Pinacoteca, que será inaugurada em 2 de abril do próximo ano, vai resumir seus 15 anos de carreira numa panorâmica que se debruça sobre questões de raça, de gênero e conflitos provocados por diferentes condições sociais.
Mais para o fim do ano, em outubro de 2022, o artista Ayrson Heráclito, curador e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, exibe, na mesma Estação Pinacoteca, em sua primeira mostra institucional em São Paulo, o resultado de anos de pesquisa da cultura afro-brasileira – sacerdote do candomblé, ele fez carreira como fotógrafo, performer e videomaker, desenvolvendo há mais de 40 anos pesquisas sobre a cultura iorubá.
Outro artista contemplado para expor na Estação Pinacoteca é Bruno Faria. Sua obra Introdução à História da Arte Brasileira 1960-1990 (2015), pertencente ao acervo da Pinacoteca, é uma instalação de 168 discos de vinil, cujas capas foram desenhadas por artistas como Alex Flemming, Guto Lacaz, Hélio Oiticica e Regina Vater, entre outros. A partir dessa ideia de coleção reunida por um artista, a exposição irá explorar outros trabalhos do acervo da Pinacoteca.
No prédio da Pinacoteca Luz ainda serão montadas exposições de Dalton Paula e Lenora de Barros. O primeiro, artista de Brasília de 39 anos, traz a São Paulo um ‘site specific’ para o Octógono sobre violência racial e a diáspora africana. Lenora de Barros faz um retrospecto de sua carreira em outubro. Antes, em maio, na Pinacoteca Luz, a produção do período barroco brasileiro será revista em obras que dialogam com as pinturas de Adriana Varejão, artista com estreitos laços com essa linguagem.
Jochen Volz destaca como a segunda mostra mais importante depois de Adriana a de arte norte-americana desenvolvida em conjunto com o Terra Foundation for American Art. Ela vai reunir 100 obras de artistas e movimentos regionais americanos figurativos menos conhecidos, mas cuja produção foi bastante influente. “Há, claro, nomes populares como Edward Hopper, Georgia O’Keefe e Andy Warhol, mas o foco é o movimento de migração para o Norte a partir do século 19, que mudou a história da pintura norte-americana”, conclui o diretor da Pinacoteca.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.