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Pinóquio: ficção ou realidade?

Há certos temas que são como certos sentimentos, em­bora ocorrentes tornam-se recorrentes. Portanto, diante do que está acontecendo na CPI da Covid-19 no Senado Fede­ral, voltamos todos a falar sobre algo que se faz presente e causa indignação a quem, como muitos de nós, não tem esse péssimo hábito: mentir.

Foi na Itália que um jornalista chamado Carlo Loren­zini, nascido em Florença em 1826, escrevendo histórias infantis sob o pseudônimo de “Collodi” (o vilarejo de sua mãe, na Toscana) criou um personagem que – para a eternidade – se tornaria símbolo dos que contam mentiras. Em 1881, nascia o travesso “Pinocchio”, com suas histórias escritas por Collodi e desenhadas por Eugenio Mazzanti.

Dizem que o jornalista e escritor era muito solitário, assim teria imaginado um velho marceneiro desejoso de ser pai, “Gepeto”, que ao encontrar um belo pedaço de ma­deira idealizou fazer uma marionete para ter companhia. Sua vontade que o boneco tomasse vida foi tão forte, que o sonho aconteceu.

O pequeno Pinóquio, que significa pinhão em italiano, tem o hábito de contar mentiras. Mas, toda vez que faz isso, seu nariz cresce e é descoberto. Além de mentiroso, também desobediente foge e se perde embarcando em uma aventura repleta de mistérios, que o leva a descobrir os pe­rigos do mundo. Se você ainda não leu, procure conhecer porque o livro é bem interessante.

Meu saudoso pai desde cedo educou-me a sempre falar a verdade. E me fazia ler a história do Pinóquio lembran­do que a mentira tem pernas curtas, mas nariz grande. A imagem ficou para sempre. No ofício de jornalista, deparei com vários “pinóquios” da vida real. Em todas as pro­fissões; muito mais na política. Segundo a Psicologia, as pessoas mentem para protegerem a si mesmas, para evitar confrontos, polêmicas, confusões; como também, para se fazerem importantes ou se incluírem em um grupo. São problemas relacionados com a falta de autoestima.

Há mentiras históricas que não se consegue apagar: o homem veio do macaco; raios não caem duas vezes no mesmo lugar; palavra saudade não tem equivalente em nenhum outro idioma; muralha da China pode ser vista do espaço; foram os ingleses que inventaram o futebol; o tango é argentino ou uruguaio; a Amazônia é o pul­mão do Mundo. E por aí vão as mentiras que se torna­ram “verdades” por terem sido repetidas muitas vezes, e sem contestação.

Nestes tempos em que a demagogia tem estado mais presente do que nunca – com as fake news sendo usadas pelo populismo irresponsável -, ao ver a pandemia sendo relativizada e o negacionismo gerar graves problemas no combate à real doença que já matou em torno de 450 mil pessoas no Brasil, nem temos o direito de, como é tradi­ção, brincar com as pessoas contando mentiras.

Não há mentira “perdoável”, como se costuma justifi­car o erro. Não existe régua de medir mentira, se pequena ou grande. Mentira é mentira. Além do que, já temos um grande mentiroso que está causando muita tragédia, ao invés de apenas educar de maneira lúdica como o genial Pinóquio faz há 140 anos.

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