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Piche na História

È claro que é irritante. Você está dentro do seu carro ou tendo que enfrentar os ônibus (cada vez mais caros) do trans­porte público e fica saltitando como se fosse pipoca por causa das ondulações do terreno. Assim está a nossa avenida Nove de Julho, a mais tradicional de Ribeirão Preto. Uma solução é necessária por questões de segurança e também por respeito a esse verdadeiro cartão postal. Mas, o caminho é jogar asfalto por cima dos paralelepípedos e acabar com a bela imagem que temos de nossa avenida? Não seria melhor se inspirar na avenida mais conhecida do mundo, fazendo a manutenção corretamente e mantendo a nossa tradição?

A Nove de Julho é tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) e por isso hoje a mudança da característica do calçamento é vetada. Para se jogar asfalto é preciso derrubar o tombamento e esse hipótese está sendo levantada, ainda na fase de conversas, mas já causando uma grande polêmica.

A discussão teria que ser a manutenção adequada do que já existe e medidas para diminuir o tráfego, como o veto a ônibus do transporte público (ou pelo menos uma grande redução).

É possível ter um ótimo pavimento com a manutenção adequada da via. Quantas ruas do Centro receberam asfalto por cima dos paralelepípedos e, mesmo assim, os problemas continuaram? Com certeza você já deve ter se deparado com buracos que deixaram o antigo calçamento de pedras à vista? Sabe o que é isso? Falta de manutenção, de zeladoria.

Vamos ao exemplo que vem da Europa. Quem nunca ouviu falar da avenida Champs-Élysées, em Paris. Aquela, que termina com o belíssimo Arco do Triunfo. Você sabia que o calçamento dela também é de pedras de granito? Sim, a avenida mais importante da França e considera a mais bela do mundo, tem o charme dos paralelepípedos e uma con­servação de dar mais inveja que o título francês na Copa do Mundo. Se você não conhece, entre na internet e veja algu­mas fotos da avenida que é encantadora.

Encanto que também tem a nossa Nove de Julho. Ri­beirão, que já foi chamada de a Pequena Paris no início do século passado (principalmente por causa das características arquitetônicas do Quarteirão Paulista). Até por causa dessa referência histórica, Ribeirão foi escolhida para ser a sede da seleção da França na Copa de 2014. Bem que nós poderíamos se inspirar mais uma vez nos franceses e focar no exemplo que vem da Avenue des Champs-Élysées (Avenida dos Cam­pos Elíseos, como o nosso tradicional bairro, se formos trazer para o nosso português).

Que a nossa Nove de Julho continue sendo a “Nove de Julho” que remete a história de Ribeirão Preto, respeitando as necessidades atuais para segurança do trânsito. O exemplo que vem de fora mostra que é possível se manter a beleza e garantir qualidade do pavimento. Que a Nove de Julho não se transforme em saudade, como tanta coisa boa que Ribeirão abriu mão com o passar das décadas, como o Teatro Carlos Gomes e os trólebus. Isso seria jogar piche em nossa história.

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