Por Breno Pires
Um ano e dez meses após apreender um celular de Andrea Neves, irmã do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), a Polícia Federal ainda não conseguiu acessar os dados do aparelho. Numa última tentativa, o iPhone foi enviado para os Estados Unidos na esperança de que parceiros consigam descobrir a senha capaz de desbloqueá-lo.
Andrea foi presa em maio de 2017, na Operação Patmos, acusada de pedir propina a Joesley Batista, da J&F, no valor de R$ 2 milhões, em benefício de Aécio. Na época da suposta transação, o tucano era senador e presidente nacional do PSDB. Ambos foram denunciados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em abril de 2017. Atualmente, ela responde o processo em liberdade.
Segundo a reportagem apurou, a irmã de Aécio não irá repassar a senha de acesso do seu celular aos investigadores. O motivo: não é obrigada a produzir provas contra ela mesma e, se a Polícia quiser acessar seus dados, terá de descobrir a senha sozinha. Procurada, a defesa de Andrea disse que não iria comentar o assunto.
A PF tenta acessar o conteúdo gravado no celular de Andrea desde o dia 18 de maio de 2017, quando apreendeu dois iPhones e um iPad na casa dela, em um condomínio de luxo em Brumadinho (MG). Dos três aparelhos, dois tiveram os dados extraídos, mas um deles segue imune às investidas.
O desbloqueio poderia ajudar na continuidade de investigações sobre os repasses da JBS ao parlamentar e à irmã dele, mas as apurações avançam independentemente disso.
Em um dos relatórios abordando essa dificuldade, um delegado citou o bloqueio com “código de usuário com número de dígitos indeterminado”. E informou que os equipamentos disponíveis só conseguem desbloquear iPhones com sistema operacional somente até o iOS 7. O telefone da irmã de Aécio é posterior: iOS.3.1. O que, escreveu, “impossibilitava, à época dos exames, o acesso ao conteúdo do aparelho sem que haja o fornecimento deste código de usuário”.
Para Evandro Lorens, da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, não existem celulares blindados. “O que pode tornar o acesso aos dados e a análise mais complexa é uma combinação de fatores, como as configurações de segurança, a complexidade das senhas, entre outros”, disse.
A posição de Andrea difere da adotada por seu primo, Frederico Pacheco. Alvo da mesma operação, ele entregou a senha do celular – o que a defesa ressaltou como “postura colaborativa”. O primo foi flagrado por ações controladas da PF recebendo dinheiro em espécie de um representante da J&F. O valor seria para Aécio. O deputado sempre negou a acusação e diz que pegou dinheiro empresado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo