O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal (PF) que investigue a tentativa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de trazer, de forma ilegal, joias avaliadas em R$ 16,5 milhões ao Brasil. Conforme revelou o Estadão, as joias eram um presente da Arábia Saudita para o então presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro e foram apreendidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, em outubro de 2021.
Mochila
Os objetos estavam na mochila de Marcos André Soeiro, assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que voltava de viagem ao Oriente Médio. “Os fatos, da forma como se apresentam, podem configurar crimes contra a administração pública tipificados no Código Penal, entre outros”, escreveu Dino em ofício enviado na manhã desta segunda-feira, 6 de março, ao diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues.
“No caso, havendo lesões a serviços e interesses da União, assim como à vista da repercussão internacional do itinerário em tese criminoso, impõe-se a atuação investigativa da Polícia Federal”, cita no documento o ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo pacote
A Receita Federal também informou nesta segunda-feira que vai investigar a entrada de um segundo pacote de joias trazido pelo governo Jair Bolsonaro ao país. Segundo o almirante Bento Albuquerque, ele e sua comitiva estavam deixando a Arábia Saudita, quando um representante do governo saudita os encontrou no hotel e entregou dois pacotes.
“Esses pacotes foram distribuídos nas malas. Uma ficou com o Marco Soeiro, a outra eu não sei com qual membro da comitiva”, disse, afirmando que não tinha conhecimento do conteúdo das caixas. O conjunto de brilhantes avaliado em R$ 16,5 milhões e que, como confirmou Albuquerque, era destinado à primeira-dama Michelle Bolsonaro, ficou retido na alfândega.
Um segundo pacote com joias mais simples, incluindo relógio e caneta, porém, passou pela alfândega dentro da bagagem de outro viajante, que ele disse não saber qual. De São Paulo, a comitiva pegou um voo para Brasília e trouxe o segundo estojo, sem passar pela alfândega, como o próprio Albuquerque reconhece.
“Quando nós chegamos em Brasília, nós abrimos o outro pacote, que tinha relógio… era uma caixa de relógio… não sei se… tinham mais algumas coisas, e era um presente. Então, o que nós fizemos? Nós pegamos, fizemos um documento, encaminhamos para a Receita Federal ou para o Serviço de Patrimônio da União… não sei, quem fez isso foi o gabinete (do MME). E foi isso”, afirmou.
A Receita vai averiguar quem transportou o pacote e que medidas serão tomadas. “O fato pode configurar em tese violação da legislação aduaneira também pelo outro viajante, por falta de declaração e recolhimento dos tributos.” Diante dos fatos, o Fisco informou que tomará as providências cabíveis “para esclarecimento e cumprimento da legislação aduaneira, sem prejuízo de análise e esclarecimento a respeito da destinação do bem”.
O órgão explicou ainda que o procedimento de seleção de passageiros leva em consideração critérios de gerenciamento de risco, baseados em um conjunto de informações relativas ao voo, ao passageiro e às características da viagem. O ex-ministro Bento Albuquerque também poderá responder por esses bens não declarados, já que admitiu publicamente que outros itens estavam na bagagem de sua comitiva.
Leilão
As joias estavam prestes a ser incluídas em leilão da Receita Federal após oito tentativas frustradas do ex-chefe do Executivo de recuperar os itens. O colar, os brincos, o anel e o relógio da marca Chopard, avaliados em € 3 milhões (ou R$ 16,5 milhões), depois de passarem mais de um ano em poder da alfândega, seriam oferecidos em certame de itens apreendidos pelo Fisco por sonegação de impostos.
Essa decisão, porém, foi suspensa porque as joias passaram a ser enquadradas como prova de possíveis crimes, entre eles descaminho, peculato e lavagem de dinheiro. Após participar de um evento nos Estados Unidos, no final de semana, Bolsonaro negou que tenha cometido qualquer irregularidade. Michelle Bolsonaro ironizou: “Eu tenho tudo isso?”.
O valor das joias – € 3 milhões – já tinha sido estimado pela equipe de auditores e iria embasar a oferta no leilão. A avaliação revisava o preço inicialmente previsto pelos fiscais, que, no ato de apreensão, chegaram a calcular, de imediato, que os diamantes valeriam cerca de US$ 1 milhão. A marca Chopard é uma das mais famosas e caras do mundo.
Depois que os itens foram apreendidos no aeroporto, o governo Bolsonaro tentou, por diversos meios, reaver as joias, sem sucesso, ao menos oito vezes. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as joias deveriam ser incorporadas ao patrimônio da União.