Por Roberta Jansen e Renata Okumura
Jovens de apenas 25 anos já deveriam começar a monitorar seus níveis de colesterol, para que tenham mais oportunidades de mudar hábitos de vida prejudiciais ou mesmo começar a tomar medicamentos para reduzir os riscos de um ataque cardíaco ou um derrame anos mais tarde. Em geral, esse controle só começa a ser feito bem mais tarde.
A recomendação vem da compilação de diversos estudos internacionais envolvendo quase 400 mil pessoas em 19 países, acompanhadas por mais de 40 anos. Segundo os resultados, publicados nesta semana na Lancet Medical Journal, os níveis de colesterol ruim ao longo da vida estão diretamente relacionados a problemas cardíacos.
As conclusões do estudo podem levar à prescrição de remédios para baixar o colesterol a pessoas muito novas. Normalmente, as drogas só começam a ser usadas depois dos 40 anos. Os potenciais efeitos colaterais de uso das estatinas (remédios para baixar o colesterol) a longo prazo não foram ainda completamente mapeados
O estudo demonstrou que uma pessoa de 45 anos que apresenta um nível de colesterol ruim alto tem mais riscos de ter um ataque cardíaco ou um derrame aos 75 anos do que aqueles que só apresentaram o indicador aos 60. Uma explicação seria o acúmulo de gordura no sangue ao longo de mais tempo.
O estudo estima que homens com menos de 45 anos com colesterol alto e outros dois fatores de risco têm probabilidade de 29% de apresentar problemas cardíacos aos 75. Para um homem com mais de 60 anos que apresente as mesmas características, esse risco é de 21%. Em mulheres, os porcentuais são 16% e 12% respectivamente.
Os autores do estudo dizem que é importante conhecer os níveis de colesterol ruim desde cedo para ter a oportunidade de reduzi-los por meio de exercício, alimentação saudável e perda de peso. “Precisamos começar cedo”, afirmou o professor alemão Stefan Blankenberg, que participou do consórcio internacional, em comunicado. “Determinar os níveis de colesterol ruim deveria estar nas nossas diretrizes já a partir de uma idade baixa, entre 25 e 30 anos.”
Para os mais jovens, a recomendação inicial não seria de medicamentos. Segundo Fernando Costa, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a prevenção deve começar na infância. “Atividade física e alimentação saudável são suficientes para modificar o panorama da incidência de doenças no futuro.” Alimentos como laticínios e carne vermelha gorda podem contribuir para o aumento do colesterol ruim. Alguns jovens, no entanto, podem ter o colesterol alto por razões genéticas.
Estilo de vida
O principal autor do estudo, Fabian Brunner, descobriu ao longo do trabalho que os níveis de seu colesterol ruim eram altos, embora ele tenha apenas 34 anos, seja magro e tenha o hábito de praticar exercícios. “Em primeiro lugar, vou fazer um acompanhamento para ver se consigo reduzir meu colesterol com modificações no meu estilo de vida.”
Há 21 anos, a farmacêutica Raquel Franchin, de 39 anos, fazia exames de rotina quando descobriu o colesterol elevado. Ela não esperava por isso, já que fazia atividade física, estava dentro do peso ideal e procurava se alimentar adequadamente. “Minha endocrinologista pediu (o exame) porque há casos na família, mas foi um susto grande, pois só tinha 18 anos. O colesterol LDL, o ruim, estava 180 – e o ideal era abaixo de 100.”
Raquel começou a tomar remédio e foi encaminhada ao cardiologista. “Já me alimentava bem, mas fiquei mais rigorosa. Evito ‘beliscar’, como frutas, saladas e carne grelhada ou cozida. Cortei frituras e doces. Aumentei a atividade física e tento manter o peso sob controle.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.