A pesquisa com o uso de células CAR-T no combate a linfomas e leucemias pode receber incentivo de R$ 2,6 milhões para uso no estudo clínico e compra de insumos, caso vença o 2º Prêmio Euro Inovação na Saúde. O estudo foi um dos doze aprovados para a fase final, numa disputa com outros 850 trabalhos de 16 países da América Latina. O Hemocentro de Ribeirão Preto participa.
A pesquisa com maior volume de votos receberá o equivalente a 500 mil euros e as outras onze, a 50 mil euros. “Esse prêmio ajudaria a continuidade da pesquisa, o estudo clínico, a aquisição de insumos e nosso objetivo de incorporar o tratamento ao SUS, beneficiando mais brasileiros”, explica o coordenador do Hemocentro de Ribeirão Preto, Diego Villa Clé.
De acordo com ele, “a pesquisa no combate ao câncer com células CAR-T já tratou 15 pacientes com linfoma e leucemia (LLA) refratários, os resultados são muito superiores às terapias convencionais”. A votação é apenas para médicos e médicas. Para votar basta entrar no site premioeuro.com, preencher os dados e escolher o número 621 e a pesquisa de combate a leucemias e linfomas receberá esse apoio financeiro.
A evolução foi celebrada por pesquisadores e por pacientes que participam de estudo com a terapia CAR-T Cell desenvolvido pelas Faculdades de Medicina de São Paulo e de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Hemocentro ribeirão-pretano e o Instituto Butantan.
Essa nova terapia usa células de defesa do próprio corpo, modificadas em laboratório, para atacar linfomas e leucemia. Os testes com este novo modelo continuam. A utilização da terapia no Sistema Único de Saúde (SUS) vem sendo estudada. O paciente beneficiado é o escritor e publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, que foi foi diagnosticado com seu primeiro linfoma de Hodgkin em 2018.
Um dos tipos mais promissores de tratamento contra o câncer, a terapia com células CAR-T consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, modificação genética dessas células e reinserção delas no corpo do doente para atuarem no reconhecimento e no combate do tumor.
No total, nove pacientes tiveram remissão completa. Comparando a imagem de exames pré e pós tratamento, é possível ver a remissão dos linfomas no corpo do paciente. O primeiro produto de CAR-T Cell lançado no Brasil ficou disponível em novembro de 2022, assim como dois estudos clínicos pioneiros em instituições brasileiras, entre eles o da USP.
O tratamento é indicado para pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B que não responderam a duas ou mais linhas de tratamento ou que voltaram a manifestar a doença após as terapias padrão. Também pode ser usado em crianças e jovens até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B que não responderam ao tratamento padrão, inclusive ao transplante de medula óssea.
Em 2019, o servidor público aposentado Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, lutava contra um linfoma quando buscou o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em um quadro terminal, aceitou participar do tratamento experimental de células CAR-T pela USP. Foi o primeiro da América Latina a passar pelo tratamento. Menos de 20 dias depois, apresentou remissão da doença.
O desfecho do caso não pôde ser acompanhado porque o homem morreu em um acidente doméstico. A tecnologia chamada CAR-T Cell (sigla para receptor quimérico de antígeno, em português) é um tipo de imunoterapia. Ela utiliza linfócitos T, células do sistema imunológico do organismo. O tratamento consiste em retirar, isolar e reprogramar os linfócitos T para conseguirem identificar células do câncer.
Em 28 de julho do ano passado, o então governador Rodrigo Garcia (PSDB) esteve no Hemocentro de Ribeirão Preto para inaugurar o Centro de Terapia Avançada (Nutera), parte do maior programa de tratamento avançado para o câncer da América Latina.
A terapia celular inovadora já se mostrou altamente eficaz no tratamento de alguns tipos de câncer de sangue, como linfoma e leucemia linfoide aguda. No Brasil, o estudo vem sendo desenvolvido em parceria entre Instituto Butantan, Universidade de São Paulo (USP) e Hemocentro de Ribeirão Preto.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP/USP) receberia R$ 43 milhões para investimento em ações de tratamento e combate ao câncer. Porém, o valor total investido no Nutera chega a mais de R$ 200 milhões. O centro ainda não começou a operar porque depende de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).